Acontecências (9)
Caçadora de emoções.
É assim que me sinto: uma caçadora de emoções. Mas as emoções que busco não são as aventurosas e sim as venturosas. As emoções provocadas pelo belo e pelo bom. Não sou pessoa de grandes aventuras embora já tenha andado de buggy pelas areias do Rio Grande do Norte, sido perseguida por motos assombradas em Rio das Ostras e outras estravagâncias. O que gosto mesmo é daquelas emoções que me fazem sentir além de mim. Nessas ocasiões penso que se me descuidar posso até ir para outras dimensões.
Não são emoções fáceis de viver. Ao mesmo tempo em que precisamos estar preparadas para elas, somos pegas de surpresa. É como se por um instante abrisse uma fenda no tempo e todas as coisas concorressem para a emoção acontecer. Hoje aconteceu um desses instantes. Um dia enfadonho que custou a passar, véspera de um longo feriado, véspera de uma eleição tediosa. As pessoas no trabalho sem ânimo para começar novas ações, algumas se preparando para viajar, outras apenas para votar, sem grandes interesses.
O Sétimo Festival de Dança Conquista para pessoas com Deficiência seria a noite. Fui escalada para representar nossa Prefeita Municipal. Fui convidada para apresentar o Festival. De qualquer forma eu iria mesmo, acompanho essa Associação desde sua fundação, assisti a todos os Festivais. Pensei que já estivesse imune a emoção. Mas não estava. Pois tudo concorreu para que a emoção tomasse conta não só de mim, mas de todos.
O auditório do Colégio Nossa Senhora de Lourdes estava repleto de pessoas entusiasmadas. E o entusiasmo aumentava à medida que os números iam sendo apresentados.
É preciso explicar. A Associação Conquista é formada por Pessoas com Deficiência. As mais variadas. Temos ali, deficientes mentais. Temos deficientes físicos, com deficiências provocadas por acidentes ou doenças degenerativas. Deficientes visuais e auditivos. E temos também as famílias desses deficientes.
Durante todo o ano, diariamente, eles desenvolvem várias atividades. Uma delas é a dança, com professores voluntários e/ou profissionais. E a cada ano a qualidade desse trabalho se aprimora.
Foram quinze os números apresentados e a cada número a emoção crescia. Eu não sei qual foi o número que me deixou mais em transe. Não sei. A seleção de música New Age, o Mundo Encantado do Circo ou o Hip Hop? Músicas românticas nacionais e internacionais, MPB, o Pop Internacional? Talvez a Dança das Cadeiras de Rodas? Ou a alegoria final? Impossível saber assim como é impossível transmitir a beleza desse espetáculo. Que deixou a todos nós com lágrimas nos olhos. Sim, confesso, eu, a durona, que nunca chora, chorei. Se não chorasse, levitaria. Porque foram as minhas lágrimas, sutis e escondidinhas atrás de meus óculos de grau que me prenderam ao chão.
Um pai. Um homem simpático ao lado de uma mulher também simpática. Eu o notei por causa de sua expressão embevecida. Segui o rumo de seus olhos e dei com ela. Uma menininha em uma cadeira de rodas, uma menininha desengonçada, talvez com paralisia cerebral. Não sei. Eu nunca os tinha visto no grupo. Foi esse olhar onde percebi o amor pleno, absoluto e incondicional, que provocou a minha maior emoção essa noite. E do momento em que percebi até o fim da noite não consegui mais desviar a atenção dessa família. Todos os bons sentimentos estavam ali. Estavam felizes e orgulhosos. E essa imagem eu sei, nunca mais sairá de minha lembrança, ocupando lugar de honra na minha sala de troféus emocionais.
(Série Acontecências – 12)
Caçadora de emoções.
É assim que me sinto: uma caçadora de emoções. Mas as emoções que busco não são as aventurosas e sim as venturosas. As emoções provocadas pelo belo e pelo bom. Não sou pessoa de grandes aventuras embora já tenha andado de buggy pelas areias do Rio Grande do Norte, sido perseguida por motos assombradas em Rio das Ostras e outras estravagâncias. O que gosto mesmo é daquelas emoções que me fazem sentir além de mim. Nessas ocasiões penso que se me descuidar posso até ir para outras dimensões.
Não são emoções fáceis de viver. Ao mesmo tempo em que precisamos estar preparadas para elas, somos pegas de surpresa. É como se por um instante abrisse uma fenda no tempo e todas as coisas concorressem para a emoção acontecer. Hoje aconteceu um desses instantes. Um dia enfadonho que custou a passar, véspera de um longo feriado, véspera de uma eleição tediosa. As pessoas no trabalho sem ânimo para começar novas ações, algumas se preparando para viajar, outras apenas para votar, sem grandes interesses.
O Sétimo Festival de Dança Conquista para pessoas com Deficiência seria a noite. Fui escalada para representar nossa Prefeita Municipal. Fui convidada para apresentar o Festival. De qualquer forma eu iria mesmo, acompanho essa Associação desde sua fundação, assisti a todos os Festivais. Pensei que já estivesse imune a emoção. Mas não estava. Pois tudo concorreu para que a emoção tomasse conta não só de mim, mas de todos.
O auditório do Colégio Nossa Senhora de Lourdes estava repleto de pessoas entusiasmadas. E o entusiasmo aumentava à medida que os números iam sendo apresentados.
É preciso explicar. A Associação Conquista é formada por Pessoas com Deficiência. As mais variadas. Temos ali, deficientes mentais. Temos deficientes físicos, com deficiências provocadas por acidentes ou doenças degenerativas. Deficientes visuais e auditivos. E temos também as famílias desses deficientes.
Durante todo o ano, diariamente, eles desenvolvem várias atividades. Uma delas é a dança, com professores voluntários e/ou profissionais. E a cada ano a qualidade desse trabalho se aprimora.
Foram quinze os números apresentados e a cada número a emoção crescia. Eu não sei qual foi o número que me deixou mais em transe. Não sei. A seleção de música New Age, o Mundo Encantado do Circo ou o Hip Hop? Músicas românticas nacionais e internacionais, MPB, o Pop Internacional? Talvez a Dança das Cadeiras de Rodas? Ou a alegoria final? Impossível saber assim como é impossível transmitir a beleza desse espetáculo. Que deixou a todos nós com lágrimas nos olhos. Sim, confesso, eu, a durona, que nunca chora, chorei. Se não chorasse, levitaria. Porque foram as minhas lágrimas, sutis e escondidinhas atrás de meus óculos de grau que me prenderam ao chão.
Um pai. Um homem simpático ao lado de uma mulher também simpática. Eu o notei por causa de sua expressão embevecida. Segui o rumo de seus olhos e dei com ela. Uma menininha em uma cadeira de rodas, uma menininha desengonçada, talvez com paralisia cerebral. Não sei. Eu nunca os tinha visto no grupo. Foi esse olhar onde percebi o amor pleno, absoluto e incondicional, que provocou a minha maior emoção essa noite. E do momento em que percebi até o fim da noite não consegui mais desviar a atenção dessa família. Todos os bons sentimentos estavam ali. Estavam felizes e orgulhosos. E essa imagem eu sei, nunca mais sairá de minha lembrança, ocupando lugar de honra na minha sala de troféus emocionais.
(Série Acontecências – 12)