Outubro
Outubro se finda finalmente e só mais tarde saberemos se vai brotar das sementes plantadas graças ou desgraças. Ninguém sabe ainda, mas o destino do país já está selado, não importa quem vai subir ao pódio.
Eu desisti de pensar a respeito. Viajei e chegando quis continuar minha análise (O que eles pretendem 1), mas perdi o tesão. Não quero mais falar de política, melhor dizendo, de políticos. Entrei em recesso porque descobri que nenhum deles tem um programa sério e vão lançando palavras ao vento conforme o público pede. Igualzinho as novelas da Globo onde o público decide o desenrolar da história. Só que as eleições não são nenhuma novela, é a vida real, a vida de cada um de nós, da sociedade como um todo que está em jogo. A impressão que tenho é que prometem por prometer e só depois quando tomar posse é que realmente vai se ver o que fazer.
Então, vou mesmo é procurar um rio para sentar-me na beira e ver se encontro alguém para se assentar comigo e enquanto nossos pés descalços baterem na água formando ressaltos e lançando longos pingos refrescantes que cairão em nossas cabeças, daremos as mãos um ao outro e ficaremos pensando na vida que passa como o rio, hoje mansamente, mas amanhã quem sabe?
A vida passa, sabia? E o rio que também passa nunca voltará a passar de novo sobre nossos pés nus, irá sempre adiante em direção ao seu destino, transformando-se sempre. Então vamos aproveitar esses momentos cuidando de nossas vidas, cuidando daquilo que verdadeiramente importa, esquecendo por algum tempo que o mundo é feito de interesses próprios e nem posso me zangar por isso porque também tenho os meus interesses embora esses passem longe da maioria dos interesses dos seres humanos.
Outubro não deixou de ser um bom mês. Vi minha mãe completar oitenta e seis anos, viajei por terras estranhas que por isso se tornaram menos estranhas, naveguei por lagos nunca antes navegados, minha vista alcançou os cumes nevados de montanhas andinas. Reli Guimarães Rosa e conheci a casa de Pablo Neruda. Continuo tendo um trabalho a fazer, mais de um, o que já é mais que eu pude desejar. Perdi e achei coisas. Perdi outras que não recuperei. Mas o que perdi não tem nenhuma importância frente ao que ganhei porque o que perdi era supérfluo, mas o que ganhei dá sentido a vida.
Sim, eu não quero poder, não quero mandar, dominar ninguém. Também não quero que ninguém me domine. Não quero ter o controle sobre nada a não ser sobre meu próprio eu, embora saiba que na verdade nem esse é realmente possível. Tudo é ilusão. Quando cheguei em casa hoje, após o trabalho, havia uma pequena pomba, Paloma perdida junto ao meio fio, as perninhas hirtas para o alto. Amanhã, se ainda estiver lá, se ainda não foi capturada por um gato noturno e vadio, já não será a mesma, a deterioração seguindo o seu curso. Isso é a vida física, a vida aparente. Então, vamos viver, aproveitar o que temos, sonhando que nada terá sido em vão, sonhando que haverá uma verdadeira Primavera do outro lado do arco-íris e que poderemos atravessá-lo de mãos dadas para alcançá-la.
Logo será novembro e com ele chegarão as lembranças dos que se foram, especialmente as lembranças de meu pai que se foi em um dia cinco. Já faz tanto tempo e parece foi ontem, mas eu não chorarei porque já me acostumei e nem levarei flores amarelas para sua campa porque sei que lá ele nunca esteve. Mas quando entrar em nossa Fábrica de Pães, lhe agradecerei pela herança material que nos deixou embora para mantê-la tivéssemos que ter muito trabalho. Mas me lembrarei principalmente da herança moral que faz seu nome ser lembrando até hoje como um homem bom e decente. Não, ele não foi santo, mas não conheço outro de quem eu gostaria de ter sido filha.
Mas novembro ainda não chegou e, portanto volto a outubro, o décimo mês de um ano que passou tão rápido que nem vi. Porque embora com esperanças para prosseguir a viagem, hoje é o dia que preciso viver bem. E é por isso que desejo a mim e a você, uma boa noite.
Outubro se finda finalmente e só mais tarde saberemos se vai brotar das sementes plantadas graças ou desgraças. Ninguém sabe ainda, mas o destino do país já está selado, não importa quem vai subir ao pódio.
Eu desisti de pensar a respeito. Viajei e chegando quis continuar minha análise (O que eles pretendem 1), mas perdi o tesão. Não quero mais falar de política, melhor dizendo, de políticos. Entrei em recesso porque descobri que nenhum deles tem um programa sério e vão lançando palavras ao vento conforme o público pede. Igualzinho as novelas da Globo onde o público decide o desenrolar da história. Só que as eleições não são nenhuma novela, é a vida real, a vida de cada um de nós, da sociedade como um todo que está em jogo. A impressão que tenho é que prometem por prometer e só depois quando tomar posse é que realmente vai se ver o que fazer.
Então, vou mesmo é procurar um rio para sentar-me na beira e ver se encontro alguém para se assentar comigo e enquanto nossos pés descalços baterem na água formando ressaltos e lançando longos pingos refrescantes que cairão em nossas cabeças, daremos as mãos um ao outro e ficaremos pensando na vida que passa como o rio, hoje mansamente, mas amanhã quem sabe?
A vida passa, sabia? E o rio que também passa nunca voltará a passar de novo sobre nossos pés nus, irá sempre adiante em direção ao seu destino, transformando-se sempre. Então vamos aproveitar esses momentos cuidando de nossas vidas, cuidando daquilo que verdadeiramente importa, esquecendo por algum tempo que o mundo é feito de interesses próprios e nem posso me zangar por isso porque também tenho os meus interesses embora esses passem longe da maioria dos interesses dos seres humanos.
Outubro não deixou de ser um bom mês. Vi minha mãe completar oitenta e seis anos, viajei por terras estranhas que por isso se tornaram menos estranhas, naveguei por lagos nunca antes navegados, minha vista alcançou os cumes nevados de montanhas andinas. Reli Guimarães Rosa e conheci a casa de Pablo Neruda. Continuo tendo um trabalho a fazer, mais de um, o que já é mais que eu pude desejar. Perdi e achei coisas. Perdi outras que não recuperei. Mas o que perdi não tem nenhuma importância frente ao que ganhei porque o que perdi era supérfluo, mas o que ganhei dá sentido a vida.
Sim, eu não quero poder, não quero mandar, dominar ninguém. Também não quero que ninguém me domine. Não quero ter o controle sobre nada a não ser sobre meu próprio eu, embora saiba que na verdade nem esse é realmente possível. Tudo é ilusão. Quando cheguei em casa hoje, após o trabalho, havia uma pequena pomba, Paloma perdida junto ao meio fio, as perninhas hirtas para o alto. Amanhã, se ainda estiver lá, se ainda não foi capturada por um gato noturno e vadio, já não será a mesma, a deterioração seguindo o seu curso. Isso é a vida física, a vida aparente. Então, vamos viver, aproveitar o que temos, sonhando que nada terá sido em vão, sonhando que haverá uma verdadeira Primavera do outro lado do arco-íris e que poderemos atravessá-lo de mãos dadas para alcançá-la.
Logo será novembro e com ele chegarão as lembranças dos que se foram, especialmente as lembranças de meu pai que se foi em um dia cinco. Já faz tanto tempo e parece foi ontem, mas eu não chorarei porque já me acostumei e nem levarei flores amarelas para sua campa porque sei que lá ele nunca esteve. Mas quando entrar em nossa Fábrica de Pães, lhe agradecerei pela herança material que nos deixou embora para mantê-la tivéssemos que ter muito trabalho. Mas me lembrarei principalmente da herança moral que faz seu nome ser lembrando até hoje como um homem bom e decente. Não, ele não foi santo, mas não conheço outro de quem eu gostaria de ter sido filha.
Mas novembro ainda não chegou e, portanto volto a outubro, o décimo mês de um ano que passou tão rápido que nem vi. Porque embora com esperanças para prosseguir a viagem, hoje é o dia que preciso viver bem. E é por isso que desejo a mim e a você, uma boa noite.