AMAR RENOVA. (Para sair um pouco da política)
Dói, mas é verdade. O rompimento de uma relação afetiva machuca, maltrata, deixa nosso peito fechado, independente da intensidade do sentimento. Quando um amor se vai, um pouco de nós fica menor. Talvez o que menos nos importe seja mesmo a dor do outro, embora isto possa acontecer concomitante. Naquilo que nos compete, fica em nosso peito um sentimento difícil de compreender, pois se mistura um pouco de cada gesto, de cada beijo, de cada abraço, de cada briga, de cada mágoa, de cada ressentimento, de cada.

Os amores não são como as pombas que se vão, mas voltam. Há amores que voltam. Mas certamente nunca se foram. Há amores que apenas esperam o tempo certo de retomar sem medo a entrega. Porque o amor se é grande, tem que ser no gesto da entrega. Amor que se entrega não pode ser mesquinho, acanhado, xoxo. É amor livre na condição do outro. Os amores que não voltam são aqueles que não nos servem. Mas amor é serventia? Sim! A serventia do amor é a leveza do ser na sua mais perfeita combinação: combina-se em tudo que não se costuma entender como tal. Voa-se nas alturas da imaginação até encontrar um céu particular dos entes amados. Creio mesmo que os amores que não se partem e que não se despedem e que não dizem adeus  sejam aqueles que se alimentam do nada e se saciam. 

A precisão dos que se amam de verdade não se encontra apenas nos encontros. Qualquer pessoa já se encontrou com alguém, mas o encanto pode não ter acontecido. Dos grandes amores, o encanto é a precisão da hora "H" em que os seres se enaltecem sem palavras. Estas, para os que se querem nesse mistério de amar sem despedidas, se bastam em si. Diluem-se numa nova forma de comunicação que o mundo dos outros ignora. 

Os amores que se partem, se partem em nós. Estes, possivelmente, não sejam os amores que os mistérios se interessam. Mesmo esses passageiros amores, quando se vão deixam-nos com o coração fechado. Talvez pela condição de antítese do sublime amor que todos almejamos, mas nem sempre alcançamos talvez por falta de merecimento. 

Os amores que nos deixam eivados de raciocínios intelectuais para nos justificar diante de nós mesmos pertencem a todos. A tristeza que nos deixam talvez seja em função daquilo que em nós se mutilou. Cada pessoa que passa por nós ou nós quando passamos por outra pessoa, ficamos com o sentimento de finitude. Claro que tudo na vida é finito, menos os grandes amantes, pois lhes faculta o nirvana que tudo não tenha explicação. Por não ter lógica formal, logo a forma é a do sentir, do subir aos céus com as asas da liberdade que eterniza grandes amores.

Dói, mas é verdade. Quando a gente aposta tudo numa relação e passa a ter certeza de que tudo não passou de uma "ralação"! É um misto de angústia que se estabelece no peito, talvez porque nos julguemos incompetentes para o amor. Talvez porque o mito da solidão novamente nos bate a porta, nos atormenta, leva-nos e querer dar sentido à lógica do "ruim com ela e pior sem ela"... Penso que se é ruim com ela, tem que ser melhor comigo e sem ela. Penso que a solidão não é doce e mesmo que fosse não há doce que adoce a boca no mesmo paladar. Prefiro pensar que nem a solidão agüentaria viver sem mim! Porque poderia ser que a gente se entendesse para buscar o amor que nos cabe. Talvez mesmo seja o medo do futuro o que nos atormente mais. Nesse tal futuro, a solidão está embutida com todos os seus malefícios reais e fictícios da nossa imaginação. O futuro que a solidão se intromete e nos mete medo é aquele em que a velhice nos paquera como ultima quimera. 

Um sol de primavera não recupera as folhas caídas no outono. Ele vai buscar na raiz folhas novas que desabrocham nos galhos aparentemente secos. O amor é um pouco dessa conjugação outono primavera. Quem nos dera?