Dando Mole

E então ela curtiu. Gamou. Gostou do que viu. Viu que ali dá samba. E agora?

Esqueça cenas de filmes, de trombadas que derrubam papéis e descarregam eletricidade ao se olharem e erguerem-se do chão em sincronia, com a papelada nos braços. Desconsidere aquela paixão súbita e arrebatadora, que te gagueja e congela sua barriga.

Deixe tudo isso para o roteiro da mesma comédia romântica que entra em cartaz todo mês nos cineminhas de domingo a noite, depois da pizza.

O foco aqui é outro, minha amiga. Me refiro àquela simples fagulha de interesse que ascende e te faz querer saber mais sobre aquele cara que deu oi com um sorriso tão simpático. Um estalo, uma faísca, um “opa, gostei!”.

Ela, a menina, a mulher quer. Ele, o homem, o menino, não sabe disso. Chegar e agarrar a presa como quem agarra um sapato numa liquidação é uma possibilidade, mas não acontece por um simples motivo: mulheres agarram com palavras, gestos, sinais de interesse.

Uma mulher consegue levar os lábios que deseja ao encontro dos seus sem que a outra boca perceba. É imperceptível. Conduz a orquestra do flerte e tira a música que bem entende, passando a sensação de quem tocou toda a peça foi ele, o mero violinista.

Homem acha que pega, que conquistou. Mas desde o início ela quem planejou todo o crime com requintes de sensualidade. Esperou a hora certa para passar em frente, a uma distância abordável. Beijou estalado, abraçando meio segundo a mais para deixar o seu perfume. Olhou de longe e sorriu para baixo, não deixando claro se sorriu para ele ou para seu copo.

Para o homem, chegar na mulher é como abrir uma porta, puxar uma cadeira e depois tirar para dançar. Mais que uma gentileza, é o seu papel. E desse acordo silencioso que nasceu a nobre a arte de dar mole, e com ela, um comum e inevitável problema: a comunicação inter-sexual.

Casais que não emplacam, ou que nem chegam a ter essa chance por um mero erro de interpretação. Mulheres de Vênus e homens de Marte sem um único curso rápido de inglês para transpor as barreiras.

Muitas vezes, o “dar mole” para uma mulher simplesmente não é lido como interesse pelo homem. Acontece com frequência: a mensagem de “ei, estou afim” não chega. Seja por incapacidade da emissora em transmiti-la ou do receptor de interpretá-la.

Homens conseguem compreender e interpretar somente 6 sinais básicos de interesse feminino:

1) Tocar os seus braços

2) Rir mais do que o comum

3) Olhar no olho

4) Olhar no lábio

5) Olhar no olho, de novo

6) Mexer no cabelo

Bônus: Morder o lábio inferior, de leve.

Qualquer outra tentativa da mulher em mostrar seu interesse que fuja desses 6 sinais básicos exigirá um receptor mais aguçado, ou mais esforçado. Coisa rara.

Desde que o homem constatou a rapidez e capacidade de conexões do cérebro feminino, ele simplesmente parou de querer interpretar todos os sinais de interesse. Não por preguiça, mas pelo bem de sua saúde emocional. Homens são normalmente mais objetivos, diretos – veja por amostra a “mulherada” que tem numa turma de engenheiros mecânicos. São curtos para as sutilezas da sedução feminina. Comportam um “sim”, um “não”, no máximo um “talvez”. E só.

A imprevisibilidade feminina é muito para nossos cromossomos.

Raros são os ousados exploradores que se aventuram na busca de compreender todos os sinais femininos de interesse e saem com vida (amorosa). Normalmente acabam se perdendo, vendo coisa onde não tem, beijando no máximo uma bochecha dada como prêmio de consolo.

Para um homem é mais seguro confiar só no que indica ser mesmo certo, garantido. Afinal, quanto mais sinais ele procurar, maiores são as chances dele encontrar o que não quer: uma recusa.

Uma mulher que sabe sacudir sua bandeirola do interesse na medida certa atrai quem faz seu samba e entra com ela na Sapucaí. Um olhar bem dado levanta da cadeira o mais tímido dos fãs de Star Wars. Injeta confiança. Destranca a porta e ajeita o capacho escrito “bem-vindo”.

No jogo da sedução, mulheres tem a faca e o queijo, daquele que tem uma casquinha por fora e é cremoso por dentro.

Aliás, cremoso não. Mole.

Fabio Lattes
Enviado por Fabio Lattes em 21/10/2010
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