Ei, Você!

Ei, você! Você mesmo, essa pessoa que está lendo estas linhas neste exato momento, quem é você? Não fuja! Você me conhece? Me acha um cara legal? Será que você me ama? Secretamente, talvez? Ou será que me despreza, sente naúseas só de estar perto de mim? Me acha falso, talvez caricato? Minha presença te deixa nervoso(a)? Você tem olhos bonitos? Azuis, talvez? Aquamarinhos? Nem sei se é assim que se escreve. Só sei que é bonito. Você é míope? Eu sou. Que merda, hein? Será que um oceano inteiro nos separa, que você está confortável, jogado numa poltrona, a calefação ligada (enquanto eu fervo aqui de calor..) Ou será que você está numa esquina aqui pertinho, apenas a luz fraca do monitor ilumina timidamente o ambiente, insone como eu? Peraí, mas você fala a minha língua? Me entende? Hello?! Olá?! Estou gritando. Me ouve? O que você está fazendo aqui, lendo isto? Acidente? Ou pura curiosidade? Mas o que você busca aqui, afinal? Como poderia te ajudar? Imagino se você poderia ou seria capaz de me amar, de se deleitar com minha presença, com meu cheiro. Isso seria bom. Será que você morrerá de alguma doença terminal? Talvez você já tenha uma? E o sangue podre, escuro, infecto, flui pelas suas veias. E se você matar alguém nesta vida, mesmo que por acidente? Imagina? E a consciência, então, como lidar com ela? E se você perder o seu filho, mudar a ordem natural da vida? Você se considera uma pessoa boa? Ou se deleita internamente com a desgraça dos outros? Solta aquele riso de escárnio que ecoa dentro de você. Você carrega algum segredo terrível dentro de você, do tipo que te sufoca? Revelará para alguém? E o amor? Você saberá amar? Com intensidade, digo, e de forma prolongada. Jamais cair na mesmice da rotina. Sim, a música de Chico Buarque deveria entrar suavemente aqui, BG, como trilha sonora. Todos sabemos de qual se trata. Não vale a pena transcrever seus versos aqui.

Você será feliz? Terá uma família dourada com um Golden Retriever esperando lá embaixo, rabo abanando, com o jornal na boca, esperando todos para tomarem o café em mais uma gloriosa manhã? Propaganda de margarina, sabe? Ou sua residência será uma caixa de papelão, às margens de um rio fétido. Mas talvez uma confortável caixa de papelão. Se servir de consolo. Home sweet home. Será que você depende de alguma coisa? De algum amor, ilusão, pessoa, ideologia, religião, de alguma droga, talvez? Aliás, você toma drogas? Eu poderia muito bem estar drogado neste exato momento, e você nunca o saberia. Completamente chapado. C-o-m-p-l-e-t-a-m-e-n-t-e? Assim, dessa forma mesma, enfatizada, para dar noção da dimensão da "ruindade". Ou então talvez seja desses tipos que se opõem ferrenhamente contra o uso de qualquer substância que altere a percepção. Um puritano, tenho um poster gigante do Bush orgulhosamente pendurado na parede do meu quarto, o qual reverencio à noite antes de dormir, e detesto tudo que é diferente de mim, por medo, basicamente? Será que você tem bom gosto? Principalmente nas artes? Isso é fundamental. Senso de humor também é indispensável, principalmente na terra das afrescalhadas princesinhas de Ipanema.

Sabia que eu achei uma estrela recentemente? Você gosta de estrelas? Acho que caiu do céu, talvez tenha se perdido, ou sido abandonada por suas companheiras. Ou talvez seja uma dessas estrelas solitárias. Mas ela brilha de forma tão intensa, irradia uma luz que parece iluminar tudo ao redor. Raramente sua figura não está em minha mente. Mas ela está tão distante de mim. So far away. E se for algo passageiro apenas? Isso seria tão triste. Saber, comprovar, quiçá, que tudo realmente é passageiro, todas as coisas, todas as paixões, as mais intensas até, aquelas que parecem arder por dentro, numa tortura deliciosa, se fragmentam e recaem sobre o entediado comodismo. Gostaria de poder reter essa sensação quente, vívida, que perpassa meu corpo, para sempre. Enfim, blábláblá. whatifs and whatnots. se... com certeza a palavra mais terrível do nosso idioma, como alguém disse certa vez. Se. Maldito "Se". As ironias da vida. Você acha a vida irônica? Bom, foi um prazer te conhecer. Vou parar por aqui. Como deu pra perceber, estou de bobeira. Simplesmente à toa. Se não te conhecia, foi um prazer. Realmente. Se já havia estado contigo em algum lugar, até mais. O fundamental é se sentir à vontade. Mi casa, su casa. Estamos todos apenas de passagem, sabe? Mas não vou começar com essa baboseira existencialista agora. Fica para a próxima. Talvez num botequim, num papo regado a cerveja gelada, garrafona de Bohemia, espuma cremosa transbordando para fora, preferencialmente. Falando nisso, vou pegar uma agora - uma Heineken estupidamente gelada, diretamente do freezer - vai uma aí?

Gabriel Santorini
Enviado por Gabriel Santorini em 21/10/2010
Reeditado em 21/10/2010
Código do texto: T2569829
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