"Angry Walls" (Paredes Bravas)
"Sitting on an angry chair
Angry walls that steal the air" - Layne Staley
As paredes da sala me devassam, me espreitam. Me espiam com desconfiança e um olhar feroz contorce seus rostos. Parecem sugar todo o ar do ambiente inteiramente branco para elas próprias, enquanto me olham com reprovação. Elas se afastam e continuam a se alongar, tornando a sala em uma imensidão solitária. Perigosamente solitária. Não consigo mais vislumbrar até que ponto elas se distanciaram. Parece que a sala se estende infinitamente. Não consigo mais ver o horizonte. Estou no meio de um quarto inteiramente branco, hospício-branco, que se alonga até o infinito, sem nem sequer um ornamento, decoração, qualquer objeto.
A solidão me ameaça, começa a expandir e a me rodear, dando a impressão de que me sufocará, de súbito. Olho para cima e reparo que o teto desapareceu. Acima de mim está apenas a visão de um céu inteiramente estrelado. Parece que não há espaço entre uma estrela e outra, apenas uma enorme teia conexa delas. Será que a sala, comigo dentro dela, terá se deslocado para outro lugar, outro tempo? Estarei no meio do deserto, ou talvez no meio de alguma floresta? Será esse barulho que ouço o som da água das cachoeiras caindo? Mas sinto o calor aconchegante, como uma onda morna, da esperança viajando por dentro de mim.