Estrela ("The Impossible is Possible Tonight")
Para a Gi
As rodas engolem as faixas brancas vagarosamente, uma por uma. A paisagem voa pela janela, mesclando-se num verde borrado, desbotado, sem fim. A distância aumenta, lentamente, como os ponteiros do relógio que parecem se agonizar para se mover.
A cabeça está a mil, o pensamento não para. Deixei muita coisa atrás lá naquela selva de pedras, naquele amontoado de concreto cinzento e opressor.
Talvez até o raio de luz que descesse, irado, na brecha dos prédios que se impõem, imponentes, perante o céu, e rompesse meu ceticismo, partindo-o ao meio, fazendo suas cinzas respingarem suavemente sobre o chão.
Um raio de luz rodeado por um amaranhado de pintas. Por cabelos negros, macios, que se prendem num tímido rabo-de-cavalo no topo da cabeça.
E por olhos indefinidos. Serão verdes? Difícil dizer. Mas, acima de tudo, por uma estrela. E uma estrela dificilmente será apenas mais uma estrela para mim. Hoje mesmo vi uma pintada com giz no canto da rua, já quase na calçada.
Parecia um objeto abstrato, desconhecido, uma interseção qualquer, bizarra, sem significado, de linhas retas que se cruzam. Não sabia que forma estranha era aquela.
Acho que deixei parte de meu coração naquele labirinto gigante, escondido em algum dos milhares de cruzamentos de rua. Mas estarei aí em quinze minutos. Talvez um pouco mais.