Elegia ao amor juvenil
Hoje presenciei um beijo de amor apaixonado, daqueles de "nunca-mais", entre duas criaturinhas jovens - jovens demais - que se despediam. O namorado ia voltar para casa, de onde sai, meio escondido, para ver seu amor, para estar com esse amor. É claro que ele volta, nenhuma hectatombe o faria desistir, muito menos apelos de mãe, que é dos menos convincentes.
Naturalmente dramáticos, os jovens - os bem jovens mesmo - tem uma crença ferrenha que cada dia é o último, que seu amor é o maior do mundo, que a separação é iminente, que o mundo vai se acabar daqui pra quarta feira que vem.
Ai! que tremenda inveja preguiçosa. Será que eu gostaria de, do alto dos meus depressivos 48 anos, me sentir assim? Não lembro se já me senti deste jeito - devo ter me sentido, em algum momento - mas já faz tanto tempo que não consigo recordar a sensação. Deve ter sido maravilhoso, eu acho.
Lógico, tem gente da minha idade que finge bem que é uma coisa! Os pseudo imaturos, os adolescentes permanentes consegue reproduzir canhestramente essa efusão de sentimentos, esse tormento que só os adolescentes sentem de verdade, por que os que já levaram seu bons "tapas na cara" da vida e do mundo, não o podem sentir.
Não os critico, é claro, cada um é livre para o que bem pensar, nessa república das bananeiras e bentevis, porém, duvido que ainda sintam esse fogo, essa paixão que vi expressa naquele beijo apaixonado, diria mesmo desesperado. Já vi senhoras da minha idade, derramando-se de paixão, fazendo cenas, vermelhas e verdes de um ciume que as põe ridículas, porém não mais jovens.
Já vi homens da minha idade - em geral de mãos dadas com moças que podiam bem ser suas filhas - em demonstrações de paixão tão efusivas que poderiam derrubar as mesas ao redor deles e que os faz patéticos.
Para tudo há uma idade certa e para esse tipo de amor também.
Por mais que morramos de inveja - eu, pelo menos - já nos falta - a mim, pelo menos - fôlego e "saco". Que me venha o amor tranquilo do meu marido velho. Os beijos delicados, a garantia de envelhecer junto, a certeza que o mundo não acaba nem em 2012 - eu não sou maia pra crer nisso - e a certeza de que se o meu amor não é o maior do mundo, pelo menos está bem fincado nele, já deu flores - minha filhoquinha - e dará frutos.
Não tivesse esse amor assim, preguiçoso, quem sabe estaria eu em busca de um amor que me desse essa preguiça de malhar - pra ficar sarada - de ter crises de ciúme - pra parecer que nada sei - de me descabelar pelo que seja - pra achar que ainda posso com isso, mas não posso. Sou uma senhora, tenho um currículo invejável, nessa coisa de viver. Estou fazendo mestrado no particular terreno do preconceito, do qual venho me despindo - dia a dia - lentamente. Já me basta.
No mais, fico com Cazuza que disse: "eu quero um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida".