Maaasss!!!...
Meus primos e eu,costumávamos ir à casa de vó Izaura, todas as tardes.Um pouco antes das dezoito horas ela ordenhava as tres vaquinhas que possuia e nós marcávamos nossas "solenes presenças" para degustar o "apôjo" (leite mais encorpado) espumante, em pequenas canecas de aluminio que vovó as denominava "Cambuquinhas dos netos".
A rotina repetia-se diariamente e quando um dos integrantes não aparecia para "bater o ponto", dona Izaura, preocupada, fazia questão de saber o porquê da ausência.Com uma paciência de Jó, vó Izaura cantarolava baixinho durante a ordenha na tentativa de acalmar as , já naquela época, estressadas ruminantes.
Em seguida apanhávamos os baldes de leite e tomávamos o caminho do casarão antigo onde ela morava.
Nêste mesmo horário, quase todos os dias, um grande avião sobrevoava as serras iratienses, e pelo rumo tomado presumia-se com destino à Curitiba.
[ As vezes fecho os olhos e consigo visualizar até o movimento giratório das hélices, o que é fruto do imaginário, presumo.]
Interioranos que éramos, desempenhávamos nossos papeis de capiáusada deslumbrada, seguindo a aeronave até que ela sumisse do nosso campo de visão. As imagens fantasiosas que criávamos a respeito , ficavam reservadas às nossas ingenuidades e ,não sei por que razão, nunca as compartilhamos.
Isso pertencera ao nosso "mundinho" até o dia em que dona Izaura... (Mentalizem a dona Benta do sitio do pica-pau amarelo.Vovó parecia-se com ela) resolveu integrar-se aos observadores de aviões,tecendo os seus comentários fantasiosos a respeito.
Parada no meio do caminho, a mão sôbre a fronte a proteger-lhe os olhos e lá veio a pérola: "Observem aquêle avião...Que coisa linda!...Vocês notaram que êle cruza por aqui tôooooodas as tardes ? Imaginem quanta gente cabe dentro dêle...Viajam alegres, vão visitar familiares, resolver assuntos de trabalho, fazer compras na capital !...Que maravilha !...
Ouviámos com entusiasmo, afinal ela percebera o "avião nosso de cada dia !"
E o discurso prosseguia em tom eloquente:
Pessoas elegantes, gente rica...Sim, porque só rico viaja de avião.
De queixos caídos, nós , a "capiauzada", ouviámos o relato da professôra aposentada. Tudo nos parecendo muito bonito, poético e colorido, até o momento em que veio o:
" Mas ! "
E foi proferido com tamanha ênfase que soou mais ou menos assim:
-Maaaaaaaasss !....
Viajam também pessoas preocupadas, doentes, nervosas...Gente que têm mêdo de avião, blá,blá,blá...
Em questão de segundos a terna figura com avental de babadinhos, quebrara o encantamento do nosso pássaro de aço.
Agora, os bigodinhos brancos desenhados pela espuma do apôjo, fazía-nos um bando de velhinhos, um tanto desiludidos.
Mal podiámos perceber (acredito nem ela mesma)a lição ensinada naquêle instante demonstrando a necessidade de se observar sempre os dois lados de uma mesma moeda.
Vó Izaura, com aquêle seu jeitinho carinhoso, sem se dar conta, filosofou. Deu-nos asas para um vôo reflexivo ao lado do avião da tarde.
Ao longo da existência, restaram-me gratas lembranças de minhas avós. Maria - a avó paterna - uma fortaleza ! Sangue de bugre; Espiava o céu e rastelando os traços da natureza fazia a sua previsão metereológica. Acertava na môsca !
Izaura - a avó materna - era o oposto.Delicada, jamais perdera a candura da professora que um dia foi. Não conhecia muito bem os traços da natureza, mas refletia sobre objetos voadores que cruzavam os espaços azulados da sua pureza de sentimentos.
Quando a lua nova surgia ante a sua primeira visão, lá vinha uma "louvação" à lua nova:
"Salve ! Salve! Lua nova///Neste céu que é de meu Deus///
Quando fores e voltares///Realize os sonhos meus!
Pequenas coisas que deixaram marcas. E como deixaram !
Ainda hoje, nesta carcaça corroída pelo tempo, tenho o hábito de observar os riscos de turbinas pelo céu.
Aí me ocorre aquela velha reflexão:
Quanta gente feliz...
Maaaaaaaaasss!!!...
foto do autor:Céus de Irati (turbinados!)
Meus primos e eu,costumávamos ir à casa de vó Izaura, todas as tardes.Um pouco antes das dezoito horas ela ordenhava as tres vaquinhas que possuia e nós marcávamos nossas "solenes presenças" para degustar o "apôjo" (leite mais encorpado) espumante, em pequenas canecas de aluminio que vovó as denominava "Cambuquinhas dos netos".
A rotina repetia-se diariamente e quando um dos integrantes não aparecia para "bater o ponto", dona Izaura, preocupada, fazia questão de saber o porquê da ausência.Com uma paciência de Jó, vó Izaura cantarolava baixinho durante a ordenha na tentativa de acalmar as , já naquela época, estressadas ruminantes.
Em seguida apanhávamos os baldes de leite e tomávamos o caminho do casarão antigo onde ela morava.
Nêste mesmo horário, quase todos os dias, um grande avião sobrevoava as serras iratienses, e pelo rumo tomado presumia-se com destino à Curitiba.
[ As vezes fecho os olhos e consigo visualizar até o movimento giratório das hélices, o que é fruto do imaginário, presumo.]
Interioranos que éramos, desempenhávamos nossos papeis de capiáusada deslumbrada, seguindo a aeronave até que ela sumisse do nosso campo de visão. As imagens fantasiosas que criávamos a respeito , ficavam reservadas às nossas ingenuidades e ,não sei por que razão, nunca as compartilhamos.
Isso pertencera ao nosso "mundinho" até o dia em que dona Izaura... (Mentalizem a dona Benta do sitio do pica-pau amarelo.Vovó parecia-se com ela) resolveu integrar-se aos observadores de aviões,tecendo os seus comentários fantasiosos a respeito.
Parada no meio do caminho, a mão sôbre a fronte a proteger-lhe os olhos e lá veio a pérola: "Observem aquêle avião...Que coisa linda!...Vocês notaram que êle cruza por aqui tôooooodas as tardes ? Imaginem quanta gente cabe dentro dêle...Viajam alegres, vão visitar familiares, resolver assuntos de trabalho, fazer compras na capital !...Que maravilha !...
Ouviámos com entusiasmo, afinal ela percebera o "avião nosso de cada dia !"
E o discurso prosseguia em tom eloquente:
Pessoas elegantes, gente rica...Sim, porque só rico viaja de avião.
De queixos caídos, nós , a "capiauzada", ouviámos o relato da professôra aposentada. Tudo nos parecendo muito bonito, poético e colorido, até o momento em que veio o:
" Mas ! "
E foi proferido com tamanha ênfase que soou mais ou menos assim:
-Maaaaaaaasss !....
Viajam também pessoas preocupadas, doentes, nervosas...Gente que têm mêdo de avião, blá,blá,blá...
Em questão de segundos a terna figura com avental de babadinhos, quebrara o encantamento do nosso pássaro de aço.
Agora, os bigodinhos brancos desenhados pela espuma do apôjo, fazía-nos um bando de velhinhos, um tanto desiludidos.
Mal podiámos perceber (acredito nem ela mesma)a lição ensinada naquêle instante demonstrando a necessidade de se observar sempre os dois lados de uma mesma moeda.
Vó Izaura, com aquêle seu jeitinho carinhoso, sem se dar conta, filosofou. Deu-nos asas para um vôo reflexivo ao lado do avião da tarde.
Ao longo da existência, restaram-me gratas lembranças de minhas avós. Maria - a avó paterna - uma fortaleza ! Sangue de bugre; Espiava o céu e rastelando os traços da natureza fazia a sua previsão metereológica. Acertava na môsca !
Izaura - a avó materna - era o oposto.Delicada, jamais perdera a candura da professora que um dia foi. Não conhecia muito bem os traços da natureza, mas refletia sobre objetos voadores que cruzavam os espaços azulados da sua pureza de sentimentos.
Quando a lua nova surgia ante a sua primeira visão, lá vinha uma "louvação" à lua nova:
"Salve ! Salve! Lua nova///Neste céu que é de meu Deus///
Quando fores e voltares///Realize os sonhos meus!
Pequenas coisas que deixaram marcas. E como deixaram !
Ainda hoje, nesta carcaça corroída pelo tempo, tenho o hábito de observar os riscos de turbinas pelo céu.
Aí me ocorre aquela velha reflexão:
Quanta gente feliz...
Maaaaaaaaasss!!!...
foto do autor:Céus de Irati (turbinados!)