PÉ NA BUNDA DOS INIMIGOS
O artista plástico Gil Vicente quase teve de recolher suas obras, da série “Inimigos”, que estão expostas na 29º Bienal de São Paulo. Você deve ter lido ou visto isso em algum lugar. A OAB SP (Ordem dos Advogados do Brasil, seção São Paulo) alegou que ele estaria fazendo apologia à violência, previsto do Art. 287, do Código Penal (fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime). Este, pelo menos, foi o entendimento que teve o presidente da entidade, Luiz Flávio Borges D’Urso.
A Bienal bateu o pé e manteve a exposição.
As obras trazem autorretratos de Vicente "matando" figuras conhecidas, como a que ele aponta um revólver para Ahmadinejad.
Bom, quem lê meus textos frequentemente sabe que eu não ia ficar só dando informações sem meter a colher nesse angu. Pois eu acho a postura da OAB uma babaquice (e ainda bem que vivemos num país com liberdade de expressão para eu falar isso). E se o Brasil se enquadra neste quesito, por que, raios, as obras não podem ser expostas? Quer dizer então que Guernica, de Pablo Picasso, que retrata os horrores do bombardeio à cidade espanhola que dá nome ao quadro, realizado por aviões alemães em apoio ao ditador Franco, não poderia ser exposta na Bienal? Ou vai me dizer que não há crime em guerra? Que não há crime em ditadura? Ou, pior: o senhor acha que Picasso, e seu cubismo, “estranho” e, quiçá, “incompreensível”, não são perigo porque não têm o realismo da tela pintada em carvão sobre o papel de Vicente?
E aqui vai uma palavrinha do Sr Picasso, caso queira proibi-lo em algum museu ou Bienal por aí: “Não, a pintura não foi feita para decorar casas. Ela é uma arma de ataque e defesa contra o inimigo” (Pablo Picasso).
Transportemos então a situação para a sétima arte. Está querendo me dizer que Tropa de Elite 2, que entrará em cartaz neste final de semana, em tese, não poderia ser passada nas telas do país, ou seja, em apreciação pública, pois estará repleta (baseado no 1º filme da série) de apologia a atos criminosos ou de autores criminosos, seja por parte dos criminosos com a população; dos criminosos com outros criminosos; dos criminosos com a polícia; com a polícia que é polícia e com a polícia que é criminosa, que também gera atos criminosos mancomunada com os criminosos, contra a população ou contra seus pares de quartel?
Ou será que o problema está no fato do autor ter se colocado na tela? Pelas barbas!, se foi isso. Pois, não percebes, Sr Presidente, que, se foi esse o entrave, julgou, sem conhecimento, creio, apenas uma forma de linguagem? Que, ao invés de colocar sua opinião sobre a sociedade em que vivemos de maneira oculta, usando personagens ou ambientes, ele decidiu mostrar quem era o autor de maneira mais crua; e que as pessoas ali retratadas, quando em tela e na visão do artista, se tornam ícones (no sentido icônico, simbólico da palavra)?
Sinceramente, Sr Presidente da OAB SP, o senhor não tem mais o que fazer?
Pois deixe quem vê as telas tirar as suas conclusões. Para isso serve a arte. E, garanto, quem vai à Bienal, quem se presta a gastar parte do seu tempo com artes plásticas, em apreciá-las, entendê-las, criticá-las, consegue discernir o que é apologia a crime daquilo que é arte e expressão.
Aproveitando que resolvi falar disso, tardiamente, eu sei, vou deixar claro que, talvez, se estivesse no lugar do Gil Vicente, não fizesse da mesma forma. Mas é apenas uma questão de estilo. Contudo, eu bem que gostaria de dar um belo dum pé na bunda de algumas pessoas. Portanto, pegarei carona nessa calda de cometa e aqui vai uma pequena lista daqueles que eu gostaria de dar um pé na bunda. Sinta-se à vontade para fazer a sua e colocar no comentário se desejar.
Da série “Pé na Bunda dos Inimigos”:
Pé na bunda do Sarney
Pé na bunda do Luxemburgo
Pé na bunda do Galvão Bueno
Pé na bunda da Xuxa
Pé na bunda de algumas das minhas ex-namoradas
Pé na bunda da Lois Lane do primeiro filme do Super Homem (odiava ela)
Pé na bunda da Adrian, esposa do Rocky Balboa (também odiava ela)
Pé na bunda do Restart
Pé na bunda do Fresno
Pé na bunda do Latino
Pé na bunda do Nélson Justus
Pé na bunda do Dunga (treinador; gostava dele como jogador)
Pé na bunda do Collor
Pé na bunda de Ahmadinejad
Pé na bunda de Kim Jong-IL
Pé na bunda dos DJs funks cariocas
Pé na bunda do Ricardo Teixeira
Pé na bunda do presidente da OAB SP
E é melhor parar por aqui porque senão ia longe... e já estou ficando com cãibra na perna.