O FANTASTICO DO AMOR

Por Carlos Sena




O FANTÁSTICO DO AMOR é sua capacidade para ser único. O fantástico do amor é sua permissividade contraditória, pois quando a agente pensa que ele a tudo permite ele a tudo se nega. O fantástico do amor é sua capacidade volátil, nem sempre tátil, mas sempre ágil. O fantástico do amor é sua capacidade de ardor, pois quando a gente se arde em chamas, logo ele intervém sem nenhum temor é faz sua parte atenuante. O fantástico do amor é a sua infinita falta daquilo que também nos falta. O fantástico do amor é nos prender por absoluta falta de conteúdo, mas quando a gente foge dele logo tudo toma sentido em forma de conteúdo. O fantástico do amor é não ser definido, embora se alimente da nossa indefinição tornando-a viva, definitiva em ação. O fantástico do amor é a sua imensa falta de limites, quando nós o que mais queremos é ter limites para garantia do nosso amor. O fantástico do amor é não ser plural e, sendo singular, alcança a todos que lhe nutrem sentimento. O fantástico do amor é conter em si, ao mesmo tempo o fim e o começo, sem permitir que alcancemos o meio. O fantástico do amor é senti-lo como musica suave que, no tempo se torna uma movimentada banda de rock, desaguando no bailar da valsa vienense. O fantástico do amor é ser atemporal na contradição de que só no tempo real, nós lhe alcançaremos. O fantástico do amor é senti-lo sem definição, mas precisar dela para tomar decisão consciente do sentir.   O fantástico do amor é que ele me permitiu chegar até aqui falando dele, quando eu queria mesmo era não falar de ninguém. O fantástico do amor é que ele é ninguém e é alguém no consolo da vida bandida que vai de ônibus, vai de trem. Mas que só vem a pé, no duro exercício do caminhar sobre pedras, sol, chuva e sereno.