CRÔNICA #023 - ÁFRICA DO SUL – DIA DOS DIREITOS HUMANOS
Quando sou desafiado, não desisto até atingir o meu objetivo. Isso faz-me lembrar de quando estive com minha família em Stellenbosch, Cidade do Cabo – SA. Era o dia 21 de Março de 2006. Minha esposa desejou comer pão fresco. Lá fui eu tentar achar alguma lugar onde se vendesse pão. Eram 6 da manhã. Logo que saí do Eik Hoff, 23, à Rua da Igreja (Church Street), recebi o impacto da lufada gelada do 'Baywind' (pron. Bêi-vind - a brisa vinda da 'False Bay' - 'vento da baía'). Acho que estava fazendo uns 6°C, mas a sensação térmica era de 0°C.. Pior é que eu havia descido do 'flat' só de camiseta simples, bermuda e sandálias japonesas.
Se arrependimento matasse, eu nem estaria contando esse fato. Aguentei firme até chegar ao primeiro cruzamento. Recebi o “Baywind” com toda sua intensidade. Todas as minhas extremidades ficaram como que congeladas. Uma dor terrível atingia o meu baixo ventre totalmente desprotegido. Pensei em voltar, pois era quase insuportável permanecer ali sem qualquer proteção para frio. Mas o meu objetivo daquela manhã era comprar pão fresco e eu não queria voltar de mãos abanando. Também detesto ter que voltar e preferi pagar aquele pato e aprender a lição do ter que voltar. Não entendia porque todo o comércio estava fechado. Passei pela portaria de um prédio e perguntei ao porteiro em meu parco inglês:
- Why everything is closed? (Por que tudo está fechado?).
- Where could I bye some warm bread? (Onde poderia comprar pão fresco?).
Então ele me explicou que aquele era um dia muito especial para a história da África do Sul, pois comemoravam a morte de Robert Subukwe, um herói nacional que levantou voz, como muitos outros o fizeram, inclusive o Nelson Mandela, contra o 'apartheid'. Por isso era feriado, o Dia dos Direitos Humanos.
- Mas e onde posso encontrar pão quentinho? - insisti. Ele respondeu-me:
- Quente, não sei. Está tudo fechado, mas a duas quadra adiante você encontrará uma lanchonete. Talvez encontre pão e leite lá.
Uma hora mais tarde, voltei feliz por ter conseguido comprar leite e pão fresco, não por ter saído na hora, mas por ter sido fabricado no dia anterior. E prometi a mim mesmo, nunca mais sair desprevenido. Só saía agora com três cuecas, duas calças, dois pares de meia, de sapatos, duas camisetas e uma jaqueta por cima. Duro era quando o sol esquentava, mas isso era mais fácil suportar.