AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS

Eleições Presidenciais

Impossível não pensar um pouco nestas eleições que se aproximam.

Fixemo-nos nos candidatos à Presidencia.

E deixemos de lado as falcatruas, pois elas existem mesmo, mas fazem parte de uma certa cultura que temos que combater, não só nas campanhas políticas – combater sempre, não como objetivo de uma plataforma tipo Collor ou Jânio Quadros ou Carlos Lacerda – mas sim exigindo a probidade como pressuposto da atividade pública.

Infelizmente está demonstrado que o chamado “moralismo” político, elevado à categoria de objetivo, nada mais é do que um véu que encobre o raivoso conservadorismo das forças que se opõem às mudanças, à quebra do padrão que sempre vigorou entre nós, a divisão entre o Brasil dos “europeizados e americanizados” e o Brasil dos “pés rapados”, dos excluídos, do povão, que só tem direito ao trabalho em níveis de remuneração de sobrevivência, quando tem.

Esta meio que indiferença pela ética de que acusam o Lula, tem duas vertentes: uma é o desprezo por contingentes de esquerda pela ética “burguesa”, uma falsa ética, já que considera a miséria como algo natural ao sistema; segundo, porque o sistema é corrupto em si, já que só se elege os que dispõem de recursos para as campanhas. Geralmente estes recursos vêm do Estado.

Há um outro aspecto, não menos significativo, que alega ser sempre a melhor ética a do mais forte , parodiando o La Fontaine, que se referia à razão, no sentido de argumentação.

Isto me lembra a frase do Goering diante do tribunal de Nuremberg: “O senhor sabe porque está aqui?”, perguntou o Juiz. “Sei: porque perdi a guerra”, respondeu o Marechal. Se fosse o vencedor, as posições seriam inversas...

È aquela velha história: ladrões de galinha, na cadeia; ladrões de milhões, soltos. Há exceções, que confirmam regra, como o Cacciola, mas o crime foi contra o sistema financeiro e aí a coisa muda. Além disso, não tinha poder político.

Então esta classe, que vem acendendo, vê as coisas com outros olhos. Para eles, sempre roubaram. Não estão inaugurando nada. Têm razão? Claro que não. Mas isto define uma época e a crise de valores que a cerca. Tem que ser combatida no dia a dia, pelos representantes da Lei. E pelos formadores de opinião, o tempo todo, e não apenas nas campanhas políticas. Utilizar-se do expediente no desespero da campanha política não representa verdadeiro apreço pela ética e sim oportunismo. Aliás, quem é especializado em “dossiers” é o PT. Quem invade computadores visando dados protegidos por lei também...

Mostra que o PT é antes de tudo um partido pequeno burguês, com um estreito moralismo: faça o que eu digo, não faça o que eu faço....

A onda de mudanças que resultou no Brasil de hoje, começou com o Collor, apesar de tudo. O Collor foi como D,João VI – abriu o país “às nações amigas” e, de outro lado, permitiu que estas Nações se abrissem a nós . Com o tempo, a caça aos Marajás e os escândalos que cercaram a sua Presidência ficarão como rodapés de paginas; o verdadeiro sentido histórico de seu Governo foi a abertura econômica, apesar de seu desastrado Plano Econômico.

Fernando Henrique, o do primeiro mandato, foi o pai da estabilização econômica, o implementador do Plano Real, o artífice da estabilidade da moeda e da recuperação financeira dos Estados, e o criador da responsabilidade fiscal. Plantou os marcos, os alicerces, a condição necessária para o que viria depois. Mas cometeu um grave erro, cujas conseqüências fulminaram o seu futuro político: aceitou a reeleição em causa própria. O seu segundo governo foi marcado por grandes dificuldades econômicas e financeiras, e como ficou travado pelos compromissos assumidos para a reeleição, nem de longe teve as características do primeiro. Sendo um Estadista, saiu como um político comum, além de ter perdido as eleições. O povo lhe deu o troco nas urnas.

A eleição de Lula teve grande sentido simbólico. Foi o primeiro operário a se eleger Presidente do Brasil. Trouxe consigo as aspirações de milhões e milhões de brasileiros. E teve dois enormes méritos, que apontam para sua postura de Estadista: entendeu que os fundamentos econômicos instalados com grande esforço pelo governo anterior não poderiam ser simplesmente descartados, como queria a fonte básica de seu poder, o PT; e não cedeu à tentação de um terceiro mandato, como queriam muitos de seus seguidores, tendo tudo para consegui-lo, se o desejasse.

Mas o seu maior mérito foi o de ter conseguido a inclusão social de milhões de brasileiros através do Bolsa Família , programa iniciado por seu antecessor, mas ao qual deu uma dimensão realmente notável. Apesar de seu caráter assistencialista, assegurou, com a estabilidade da moeda, a melhoria de condições de vida a milhões que estavam abaixo do nível da pobreza, fortalecendo, sem dúvida, o mercado interno e diminuindo a tensão social... Dizem os seus opositores que teve a seu favor os ventos da economia; mas quando não teve , mostrou que o País estava bem menos vulnerável do que se pensava. O fato mais negativo de sua gestão é, sem dúvida, o aumento indiscriminado das despesas do Estado, e o seu “apararelhamento” com os apaniguados políticos, principalmente dirigentes e ex dirigentes sindicais e correligionários do PT; uma política de remuneração dos funcionários públicos, e de aposentadorias do setor público, que os torna salvo poucas exceções, verdadeiros marajás, se comparados à remuneração paga no setor privado. Uma generosa revisão das aposentarias do sistema previdenciário também ameaça as contas do setor.

Acrescente-se a isto uma política externa audaciosa, apesar de certos exageros e tropeços, e mesmo fracassos, um esforço bem sucedido de ampliação de mercados e de novas parcerias que deram ao Brasil, apesar dos exageros, uma nova dimensão no cenário internacional.

Maior fraqueza: não ter usado seu imenso prestígio para implementar as reformas Tributária, da Previdência, do Judiciário e Política, de que o Brasil tanto necessita para atingir um outro patamar de desenvolvimento econômico e social.

Apesar das críticas, trabalhou em benefício do meio ambiente; mas tem a consciência que não é possível melhorar a partir de um certo ponto sem resolver os problemas sociais básicos. O maior poluidor é a pobreza .

Porque escolher a Dilma, se politicamente não tem representatividade alguma? Uns dizem que é para o Lula poder dominá-la e assegurar a sua candidatura no período seguinte. Entendo ser esta interpretação um pouco falaciosa.

Acho que Lula foi pinçar a Dilma porque ela não representava nada dentro do Partido. Qualquer nome de maior expressão racharia o Partido, cheio que é de correntes e facções. Os caciques não aceitam a proeminência de uns sobre outros – por isto são caciques. De outro lado, todos acreditam que terão influência sobre ela. Ledo engano. A Dilma não é a bonequinha fabricada pelo marketing; a Dilma é a guerrilheira, uma mulher que teve a coragem que muitos homens não tiveram de empunhar armas para enfrentar a ditadura. Uma mulher de personalidade, durona, quando é preciso. Além disso, Lula teve a intuição de que, do mesmo modo que foi muito importante politicamente ele ter sido o primeiro operário a galgar a Presidência, é da maior importância que uma mulher também o consiga.

Já afirmei que a história é movida pela esperança e pelo medo (vide Tem a História Um Sentido?). A Esperança aqui é simbolizada por um projeto desenvolvimentista que procura focar a sua ótica na figura do homem e não na do desenvolvimento pelo desenvolvimento, como foi no período JK, restrito a outra contingência histórica.

O medo, simbolizado pelo receio de algumas classes com a ascensão de outras , como, de modo parecido , aconteceu em 1930; pelo medo da tomada do estado por dentro, como foi tentado antes por José Dirceu, ou pelo menos, como dizem que foi.

Se olharmos de uma perspectiva mais ampla e não compromissada, veremos que tanto faz a vitória de um candidato ou de outro. Isto para o povo, naturalmente. Certas conquistas são irreversíveis: a estabilidade da moeda é uma delas. O Bolsa Família é outra.

È claro que em termos de gestão o Serra é bem preparado. Mas isto não quer dizer grande coisa. O Palocci, era muito pouco conhecido, a não ser em Campinas. No entanto foi o Ministro da Fazenda que foi. Quadros existem: o Plano Real não foi feito por medalhões, mas por jovens e competentes economistas. Fernando Henrique é sociólogo. O Palocci, médico. O Lula, operário e líder sindical. As coisas são assim.

O Presidente, qualquer que seja, é pressionado por uma realidade. “A Política é a arte do possível”. É claro que num país Presidencialista a ênfase é dada pelo Presidente. Cada um governa com o olhar que tem. Mas o Brasil já está estruturado, do ponto de vista institucional, para defender-se de quaisquer excessos.

O PSDB, infelizmente, porque tem líderes de valor, não foi capaz de apresentar um plano consistente alternativo ao do Governo. Caiu no moralismo e na crítica menor, inclusive trabalhando o medo. Moralismo por si só não basta. De ouro lado, se a coligação pró Dilma é uma colcha de retalhos, a que apóia o PSDB é o que há de mais retrógrado. Além disso, como visão do mundo, ambos os partidos são muito parecidos. Daí as divergências ficarem nas picuinhas. Há, portanto, esta esperança: com a qual ou sem a qual, tudo fica tal e qual. Ou desesperança, dependendo do ponto de vista. Tal e qual dentro da evolução prevista; não é possível o imobilismo.

Há um perigo: nunca vi a criatura não se voltar contra o criador. Isto seria grave, porque a alternativa seria a Dilma ir mais para a direita. Acredito que mesmo no Poder, ela não teria como encarar o Lula no PT. Só se ela conseguisse isolar o seu criador, o que é tarefa ingrata, temos que convir. Enquanto ela ia com a mandioca, o Lula já voltava coma farinha.

Divagações à parte, outro aspecto, que ninguém fala, é o da doença da candidata. Seria catastrófico que a Presidência acabasse nas mãos do Vice. Não que não tenha valor, não é isto. Mas seria alguém sem a menor representatividade, não espelharia a corrente política que teria levado a Dilma ao poder, ou seja, não representaria o Lula, mas o MDB. O mesmo se pode dizer do Serra: bem ou mal, é um homem mais à esquerda. O Vice é da direita a mais raivosa possível.

Mas aí entra o Destino, o verdadeiro artífice. Se não fosse, o Lula não teria sido Presidente da República. Nem o Obama, dos USA. Lembremo-nos de Tancredo. Quem poderia imaginar que o Sarney viesse a ser o Presidente da República?

Mas como a voz do povo é a voz de Deus, votemos. Será o que tem que ser. A nós cabe o voto e a vigilância depois.

Joao Milva
Enviado por Joao Milva em 24/09/2010
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