LOUCURA PROFUNDA
Rebelde, maldito, marginalizado e incompreendido enquanto viveu, encarnação máxima do gênio romântico, da imagem do artista iluminado e louco, Antonin Artaud passou a ser reconhecido depois da sua morte como um dos mais marcantes e inovadores criadores do século XX. Tudo que, aos olhos dos seus contemporâneos, pareceu mero delírio e sintoma de loucura, agora é referência obrigatória para as mais avançadas correntes do pensamento crítico e criação artística nas suas várias manifestações: teatro, arte de vanguarda e criações experimentais, manifestações coletivas e espontâneas, poesia, lingüística e semiologia, psicanálise e antipsiquiatria, cultura e contracultura.
Dependente químico de heroína e de ópio, com nove anos de internações em manicômios, sendo torturado com choques elétricos, Artaud conseguiu deixar um legado artístico e cultural de relevo muito expressivo. Não tenho dúvidas, era um louco profundo, dotado de uma genialidade expressiva e exuberante, capaz de movimentar a incapacidade de pensar dos seus adversários psiquiátricos e contemporâneos. Como todo gênio de estirpe, foi incompreendido e desqualificado no seu tempo criativo.
Eu, Fernando Pellisoli, por minha vez, também sou um louco profundo, com quatro internações psiquiátricas, dotado de uma genialidade que a pós-modernidade ainda não pode descobrir, devido a privações de toda ordem que a minha arte eclética e versátil já sofreu, e continua a sofrer. Sei que é vitupério tecer elogios iluminados a mim mesmo, mas qual o remédio mais eficaz ao pobre poeta da loucura desconhecido, que também é artista plástico, jornalista, dançarino, ator, diretor e dramaturgo, para curar a minha insatisfação que reage ao domínio dos detentores do poder – que me impedem de explorar o meu poder criativo, tolhendo as minhas inclinações vocacionais, mantendo-me distante das massas oprimidas. E de uma forma muito simples: mantendo-me longe do poder econômico e do apoio dos patrocinadores e, ainda, sendo anestesiado pela psiquiatria, com medicações fortes, que dificultam a minha aproximação concreta da vil realidade.
Sofro de insônia e sou bipolar. Bipolaridade esta que atesta o homem de gênio que sou em detrimento da fúria dos algozes contra o meu antidestisto, a minha anticultura e a minha antipsiquiatria conformada. Através da bipolaridade, tenho duas visões de mundo bem delimitadas: de um lado, sou romântico, sonhador e alegre; do outro lado, sou revolucionário, realista e triste. E podem me chamar de louco que eu tomo por elogio, mas não um louco qualquer, mas um grande louco. E tem sido assim. As reformas das nossas sociedades humanas ocorreram através das manifestações irreverentes dos grandes loucos (ou grandes pensadores).
Tenho muito medo de não concretizar a minha arte por inteiro, de forma plena e absoluta. Disponho de quase nenhum recurso financeiro para desenvolver e ampliar a minha produção artística, cultural e espiritual. Sobrevivo na minha solidão criativa escrevendo os meus livros à espera de dias melhores que por ventura deverão vir. Mas não espero reconhecimento e consagração ainda em vida no que tange ao meu potencial artístico. Quero deixá-lo, isto sim, como legado à humanidade – fonte de inspiração e para quem trabalho com extremado carinho e sem receber remuneração alguma de ninguém. É, em verdade, na penúria extrema, iluminado pelos meus mentores espirituais, que desenvolvo a minha arte tão amada por mim. Mas não se iludam, pois a minha revolução não virá antes da hora prevista. Tenho muito que realizar no tocante ao meu trabalho literário, artístico, cultural e espiritual. Roubaram toda a minha arte, num passado remoto. Estou recomeçando novamente do zero a reerguer, novamente, a minha arte que foi humilhada e menosprezada por pessoas ignorantes e despolitizadas da minha família. Queimaram 36 catálogos de exposições de artes plásticas minhas. Cem livros (poesia e prosa) foram destruídos. 170 certificados e diplomas acadêmicos e premiações foram, também destruídos. 350 recortes de jornais com trabalhos intelectuais meus – sumariamente destruídos! Saquearam a minha empresa (Rede Gafforelli), aproveitando que eu me encontrava internado num hospital psiquiátrico, e me furtaram todo o meu patrimônio intelectual e material.
Estou aqui diante do meu computador, trabalhando como nunca, mas extremamente desgastado com a intensidade do meu sofrimento, carregando uma montanha de problemas que parecem, a princípio, impossíveis de solução. Mas vou remando devagar neste mar agitado, esperando o momento certo de reverter este quadro depressivo no qual me encontro.
E, ademais, nada como um dia após o outro para se manifestarem as expressivas verdades de um artista louco, profundo e, irrecuperavelmente, um sonhador criativo.
Rebelde, maldito, marginalizado e incompreendido enquanto viveu, encarnação máxima do gênio romântico, da imagem do artista iluminado e louco, Antonin Artaud passou a ser reconhecido depois da sua morte como um dos mais marcantes e inovadores criadores do século XX. Tudo que, aos olhos dos seus contemporâneos, pareceu mero delírio e sintoma de loucura, agora é referência obrigatória para as mais avançadas correntes do pensamento crítico e criação artística nas suas várias manifestações: teatro, arte de vanguarda e criações experimentais, manifestações coletivas e espontâneas, poesia, lingüística e semiologia, psicanálise e antipsiquiatria, cultura e contracultura.
Dependente químico de heroína e de ópio, com nove anos de internações em manicômios, sendo torturado com choques elétricos, Artaud conseguiu deixar um legado artístico e cultural de relevo muito expressivo. Não tenho dúvidas, era um louco profundo, dotado de uma genialidade expressiva e exuberante, capaz de movimentar a incapacidade de pensar dos seus adversários psiquiátricos e contemporâneos. Como todo gênio de estirpe, foi incompreendido e desqualificado no seu tempo criativo.
Eu, Fernando Pellisoli, por minha vez, também sou um louco profundo, com quatro internações psiquiátricas, dotado de uma genialidade que a pós-modernidade ainda não pode descobrir, devido a privações de toda ordem que a minha arte eclética e versátil já sofreu, e continua a sofrer. Sei que é vitupério tecer elogios iluminados a mim mesmo, mas qual o remédio mais eficaz ao pobre poeta da loucura desconhecido, que também é artista plástico, jornalista, dançarino, ator, diretor e dramaturgo, para curar a minha insatisfação que reage ao domínio dos detentores do poder – que me impedem de explorar o meu poder criativo, tolhendo as minhas inclinações vocacionais, mantendo-me distante das massas oprimidas. E de uma forma muito simples: mantendo-me longe do poder econômico e do apoio dos patrocinadores e, ainda, sendo anestesiado pela psiquiatria, com medicações fortes, que dificultam a minha aproximação concreta da vil realidade.
Sofro de insônia e sou bipolar. Bipolaridade esta que atesta o homem de gênio que sou em detrimento da fúria dos algozes contra o meu antidestisto, a minha anticultura e a minha antipsiquiatria conformada. Através da bipolaridade, tenho duas visões de mundo bem delimitadas: de um lado, sou romântico, sonhador e alegre; do outro lado, sou revolucionário, realista e triste. E podem me chamar de louco que eu tomo por elogio, mas não um louco qualquer, mas um grande louco. E tem sido assim. As reformas das nossas sociedades humanas ocorreram através das manifestações irreverentes dos grandes loucos (ou grandes pensadores).
Tenho muito medo de não concretizar a minha arte por inteiro, de forma plena e absoluta. Disponho de quase nenhum recurso financeiro para desenvolver e ampliar a minha produção artística, cultural e espiritual. Sobrevivo na minha solidão criativa escrevendo os meus livros à espera de dias melhores que por ventura deverão vir. Mas não espero reconhecimento e consagração ainda em vida no que tange ao meu potencial artístico. Quero deixá-lo, isto sim, como legado à humanidade – fonte de inspiração e para quem trabalho com extremado carinho e sem receber remuneração alguma de ninguém. É, em verdade, na penúria extrema, iluminado pelos meus mentores espirituais, que desenvolvo a minha arte tão amada por mim. Mas não se iludam, pois a minha revolução não virá antes da hora prevista. Tenho muito que realizar no tocante ao meu trabalho literário, artístico, cultural e espiritual. Roubaram toda a minha arte, num passado remoto. Estou recomeçando novamente do zero a reerguer, novamente, a minha arte que foi humilhada e menosprezada por pessoas ignorantes e despolitizadas da minha família. Queimaram 36 catálogos de exposições de artes plásticas minhas. Cem livros (poesia e prosa) foram destruídos. 170 certificados e diplomas acadêmicos e premiações foram, também destruídos. 350 recortes de jornais com trabalhos intelectuais meus – sumariamente destruídos! Saquearam a minha empresa (Rede Gafforelli), aproveitando que eu me encontrava internado num hospital psiquiátrico, e me furtaram todo o meu patrimônio intelectual e material.
Estou aqui diante do meu computador, trabalhando como nunca, mas extremamente desgastado com a intensidade do meu sofrimento, carregando uma montanha de problemas que parecem, a princípio, impossíveis de solução. Mas vou remando devagar neste mar agitado, esperando o momento certo de reverter este quadro depressivo no qual me encontro.
E, ademais, nada como um dia após o outro para se manifestarem as expressivas verdades de um artista louco, profundo e, irrecuperavelmente, um sonhador criativo.