A FORÇA DO DESTINO


Nem sempre é possível a realização de nossos sonhos. Pois existem pessoas que, por mais que tentem, não conseguem realizar os seus desejos mais íntimos. Isto é uma sina do Homem que sofre sem saber o motivo de tamanha turbulência.
A vida é diferenciada de uma pessoa para outra. Tem gente que nasceu com a bunda virada para a lua. Tudo dá esplendorosamente sempre certo para determinadas pessoas. Os negócios sempre em alta. Os amores em vento e polpa como mandam o figurino. A saúde inabalável é o ensejo de uma vida agradável, com muita alegria. E os problemas do mundo, a fome do mundo, as barbáries do mundo, as atrocidades da violência do mundo não bastam para abalar a estrutura de gente milionária.
Mas a maioria das pessoas não vive num mar de rosas. São bilhões de pessoas, no mundo, passando fome. Pessoas que não podem sequer alimentar a idéia de ter sonhos. Sonhos que com certeza não serão concretizados. Sofrer é a única saída dessa gente pobre que, na verdade, não vale absolutamente nada para o Sistema. O desagrado de viver dessa gente pobre não é ignorado pelos representantes do destino dos homens. Mas ninguém se importa com a miséria alheia. Com o grito abafado de uma criança doente. Com os gritos de uma mãe parindo no meio da rua. Com a tristeza de um poeta parindo poemas de contestação. Tudo é muito macabro, frio e calculista. Vivemos, e isto é evidente, desprotegido da sorte, desprotegido do governo, governados, apenas, pela força do destino, que, categoricamente, impera as suas regras espirituais, os seus conceitos de vidas pregressas e de leis como aqui se faz aqui se paga.
Será que o rico não recebe impressão nenhuma da força do destino? Será que ele é imune às intempéries do meio ecológico? Será que ele está ileso de ser julgado pela justiça dos homens? Como é evidente que as leis são feitas pela classe privilegiada, é elementar que o mundo é construído para os ricos. Séculos após séculos, e o mundo tem sido assim: feito para os ricos se esbaldarem na vida. Como é incompreensível aceitar a idéia de que o mundo existe apenas para alguns homens. E que o resto esmagador das pessoas nasceu para ser capacho dos poderosos. Como seria muito mais proveitoso, e mais justo, se a sociedade humana fosse mais humanizada, mais igualitária e mais socializada. E a força do destino porque não transforma o mundo caótico em mundo de amor, de verdadeira caridade e de chances iguais para todos?
A utopia tem sido a bandeira dos grandes poetas que querem revolucionar este mundo doido. Tão doido que os psiquiatras, se analisados, são, indubitavelmente, mais loucos que os próprios loucos – que ficam cada vez mais loucos ingerindo medicação psiquiátrica.
A pobreza é um mal necessário para que a riqueza prolifere. E as grandes massas estão à mercê da sorte e da força do destino. Ninguém, na verdade, foge do seu destino. Todos, incluindo os ricos, estão condicionados pela força do destino a serem bons ou maus – recebendo, evidente, o livre-arbítrio. O sofrimento da pobreza não é motivo para que o Homem se torne mal. Sendo rico ou pobre, o Homem pode decidir em ser bom ou mau. Riqueza e pobreza são duas provações do destino humano. Mas eu acho, modestamente, que o rico, por excelência, é muito pior do que o pobre: quero ver um rico viver na pobreza e se manter carinhoso e bonzinho?

FERNANDO PELLISOLI
Enviado por FERNANDO PELLISOLI em 20/09/2010
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