O PODER DO BOM HUMOR
De: Ysolda Cabral
Todos os anos faço meu check-up em março, mês que antecede o mês do meu aniversário. Como os exames sempre dão normais, resolvi este ano não me apressar.
Hoje, finalmente, amanheci disposta a encarar a referida avaliação.
Em jejum, de banho tomado, vestida de roupas e sapatos confortáveis, fáceis de tirar, munida de meu bloco de anotações e caneta; sai cedinho de casa rumo ao laboratório e clínica de ultra-som.
Apesar do trânsito intenso, consegui ser umas das primeiras a chegar.
A recepcionista me atendeu com cordialidade e me entregou uma senha dizendo-me para aguardar.
Na sala de espera uma mesa de canto, com deliciosos biscoitos e bolachas; café, chá e leite. Na parede uma gigantesca tela de TV, transmitindo um programa de culinária.
Senti meu estomago protestar. Mais que depressa, peguei meu bloco e a caneta para desviar minha atenção da TV e da mesa.
Logo a mesma recepcionista me mandou ir até o prédio vizinho fazer a coleta de sangue, uma vez que os exames que dependiam de médicos e máquinas iriam demorar um pouquinho. E, lá fui eu toda calma e paciente, porém com uma fome desgraçada.
Ao chegar fui imediatamente encaminhada para um Box de coleta. Uma técnica jovem e bonita me aguardava com cara de poucos amigos. Pensei cá com meus botões: eu que deveria estar com essa cara! - Mas enfim...
Caprichei no sorriso de bom dia.
Ela resmungou algo inaudível e me mandou sentar. Antes, tentei colocar o “tripé de braço” do meu lado direito, lhe informando que a veia de meu braço direito era muito fácil de pegar.
Meu Deus do Céu! Ela ficou muito brava e disse que era ela quem iria decidir qual a veia seria melhor. - Pensei: ora se a veia é minha, o sangue é meu...
Cai na risada e obediente me sentei. Contudo, lhe estirei o braço direito e já com a veia dilatada, só com o fechar de minha mão, disse-lhe para realizar a coleta.
Ela “cegou” e “trincando” os dentes pegou o “garrote” que ao invés de amarrar meu braço foi parar no chão bem longe de nós duas. Parecia até que tinha vontade própria e se rebelava contra mim, por dizer não precisar dele; ou contra ela, por querer utilizá-lo sem a menor necessidade.
Cai na gargalhada e ela, - acho que contando até dez -, me encarou. Quando pensou em falar, me adiantei e lhe perguntei: como é possível uma moça tão linda, ser tão mal humorada?
Ela então sorriu e apaziguada com ela mesma coletou meu sangue sem nenhuma dificuldade.
Dei-lhe um beijo agradecido e fui embora deixando lá um garrote esparramado no chão, e, uma jovem garota com muito pra refletir.