O MENDIGO E OS CACHORROS

Ninguém é suficientemente perfeito, que não possa aprender com o outro e, ninguém é totalmente desttuído de valores que não possa ensinar algo ao seu irmão.

(São Francisco de Assis)

Até pouco tempo atrás, quem andasse pelas ruas do centro de Uberaba-MG, poderia defrontar com um personagem exótico. Representado por um indivíduo maltrapilho, descalços, barbudo, de pele clara e traços suaves. Ás vezes sentado na calçada, outras vezes em pé, atravessando a rua, ou mesmo encostado em alguma parede das ruas centrais.Verdadeiro protótipo de um mendigo de rua. Contudo, não pedia esmolas.

Nunca ouvi sua voz, comunicava-se através de sinais, utilizando-se das mãos. Não tinha olhos para os humanos, sua atenção era única e exclusivamente para seis cães vira-latas que o seguiam por toda parte. Os cães eram de porte médio e de pêlos luzidios, aparentemente fruto de alimentação farta e de boa qualidade. Da mesma forma, os caninos só tinham olhos para o dono. Sempre alegres e dóceis, não se ouviam seus latidos.

Outro dia, na rua mais movimentada da cidade, ele encontrava-se de um lado da via pública e os cachorros do outro. Pacientemente, os cães aguardavam para cruzar a avenida. Depois que o semáforo fechou, o “nosso herói” fez um sinal e os cachorros educadamente realizaram a travessia até seu dono, de forma ordeira e abanando os respectivos rabos.

A última vez que encontrei esse estranho grupo, eles estavam se alimentando. Isto é, ele estava dando de comer aos seus companheiros. Como me situava do outro lado da rua, não deu prá ver direito, qual o alimento estava dando aos cães. Entretanto, percebi que os alimentavam, individualmente. Enquanto que o restante esperava pacientemente, a vez de receber sua comida.

Por uma razão inexplicável, nunca presenciei alguém se comunicando com ele. Parece que todo mundo preferia guardar certa distância. Talvez, por medo dos cães, não sei ao certo. Ou talvez por perceber naquele senhor silencioso, alguém, realmente especial, um forasteiro entre nós. Sempre simpático, mas ao mesmo tempo tão distante. Infelizmente, não o tenho visto mais e nem seus cães. Como por encanto, desapareceram todos. Perguntei por ele e pelos animais, mas ninguém soube dizer o paradeiro de tão diferentes personagens.

João da Cruz
Enviado por João da Cruz em 11/09/2010
Reeditado em 05/03/2012
Código do texto: T2491758
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