McGREGOR

Theo Padilha

Ano de 1968. Joaquim Távora. Norte velho do Paraná. “Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rollings Stones”. Assim era Douglas, um garoto que vinha de uma família muito pobre, mas sempre cheio de sonhos. Trabalhou, estudou, e lutou muito. Gostava muito de cinema e da Língua Inglesa. Como não tinha muita renda chegou até a selar ingressos para poder entrar, gratuitamente, no cinema de sua cidade. Gostava de ler todo tipo de livros e revistas. Ouvia muito rádio. A Rádio Bandeirantes era sua favorita. Gostava de ouvir Roberto Carlos. Até copiava as roupas do cantor. Era só levar a revista e a costureira, Dona Jorgina, fazia igual. Imitava o cabelo e até ensaiava um sotaque carioca. Não sabia dançar, mas não perdia bailes. Sua turma era muito animada.

Agora Douglas já moço, estudante do Curso de Contabilidade, morava com seus pais numa pequena casinha, próximo ao colégio onde mais tarde foi professor de Inglês e Português. Frequentava o bar Bonamigo, o melhor bar de sua Joaquim Távora. E bebia também. Em vez de dançar – bebia.

Certa vez num baile, animado pelo famoso conjunto “Nenê Som Seis”, Douglas conheceu umas garotas que tinham vindo de Ribeirão Claro, cidade vizinha da sua no estado do Paraná. Logo se empolgou com uma linda loiraça. Até ensaiaram uns passos, mas foram para a mesa conversar.

— Como é o seu nome?

— Cláudia! E o seu?

Depois de matutar muito Douglas quis impressioná-la e disse:

— McGregor! – Ele tinha lido muito sobre o escritor americano Douglas McGregor.

No final do baile já estavam unidos, Cláudia e Douglas. Ainda bem que não apareceu nem um amigo da onça, para desmentir o seu nome. Na saída “McGregor” pede para levá-la. Ele ficou sabendo que ela e sua irmã, estavam paradas numa casa, vizinha a sua. Mas não quis contar que morava naquela humilde morada ao lado. Talvez pelo complexo de inferioridade. Depois das despedidas, dos amassos, dos beijos, Cláudia entrou logo que sua irmã chegou com um outro colega seu.

— Boa noite, McGregor!

— Boa noite, Cláudia! Amanhã nos veremos no Bar Bonamigo, ok?

Douglas esperou elas entrarem e correu para sua casinha que ficava do lado. O dia já estava quase amanhecendo. Douglas chegou, foi para a cama e dormiu até as 11 horas do domingo. Douglas acorda com a cabeça doendo das doses que havia tomado no dia anterior. No fundo do seu quintal havia uns pés de cafés, e o rapaz tinha ido para lá urinar e vomitar. De repente ele escutou uma voz do outro lado da cerca.

— McGregor! McGregor! É aí que você mora????

O rapaz já havia esquecido até do nome McGregor. Estava de cuecas. Sem a dentadura que havia deixado na casa. Cabelos desarrumados. E vomitando até as tripas.

— É! – Respondeu.

Morrendo de vergonha por tudo. Pos a mão na boca. Tentou arrumar os cabelos e correu para dentro. Nunca mais Douglas viu a moça que havia voltado para a sua cidade. Depois daquilo nunca mais mentiu onde morava. Ele queria ser aquilo que não podia ser. Tinha vergonha de ser pobre.

Copyright by Theo Padilha, 10 de setembro de 2010.

Theo Padilha
Enviado por Theo Padilha em 10/09/2010
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