TRAIÇÃO E AMOR

 

Trair é inerente a natureza humana. Da mesma forma que amar. Trair é uma atitude interna que pode se aplicar a qualquer situação, embora seu peso maior (e o que causa maior dano) seja o afetivo. Amar, dentro do mesmo ângulo de visão, é por excelência uma atitude interna, dentro dos mesmos parâmetros do "trair". Como tal, amar também se aplica a diversas situações, mas o que causa maior prazer e dor, é o amor por alguém na dimensão HOMEM X MULHER  e suas derivações.
Num mesmo diapasão, parecem conviver o amor e a traição. Na história da humanidade, a maior traição foi a de Judas que traiu Jesus por trinta dinheiros. Na história do amor, amores intensos reais ou fictícios foram vividos por Romeu e Julieta, Abelardo e Heloisa, Jasão e Medéia. Imensas histórias de amor, certamente povoaram a vida de muitos de nós sem que deles tenhamos conhecimento. Da mesma forma, traições espetaculares devem ter acontecido distante das visões dos principais interessados. 
Parece-nos que o entendimento do amor e da traição perpassa por conceitos sutis, diretamente relacionados à cultura dos povos. Contudo, independente de julgamentos, trair e amar convivem na mesma célula da afetividade. Os aspectos que mais nos são dados conhecer são aqueles que, na relação afetiva, implicam numa certa ética das relações. Neste sentido, pode ser ético trair um grande amor de uma forma que não chegue ao conhecimento público nem do ser amado. Considerando a religião católica, a gente trai por pensamentos palavras e atos. Para o catolicismo o casamento é indissolúvel, mas sabemos que nem sempre todo ele acontece com bases no amor. Neste caso, a própria ética seria submetida a determinados cânones e, de certa maneira, levaria muitos a questionamentos acerca da moral sobre essa ética.
Trair é complexo, principalmente nas sociedades machistas. Aos homes parece ainda ser permitido que ele traia, mas o contrário nem sempre é verdadeiro. Embora convivendo com tanta modernidade, boa parte dos homens latinos traem e não admitem serem traídos pelas suas mulheres. Por outro lado, muitas mulheres que sabem que seus maridos as traem, comportam-se como se nada estivesse acontecendo, dando-nos a impressão de que no papel de mulher ainda esteja presente essa prerrogativa legitimada pela cultura familiar.
O mais conflitante é que parece existir um sentimento latente de que a traição não signifique falta de amor. Tampouco que o amor esteja morrendo. Diante de tantas innvestidas que colocam amor e traição, de fato, no mesmo diapasão, como vimos anteriormente, tudo indica que ainda caminharemos muito tempo com essas mesmas práticas.
O amor, neste caso, parece que dispõe de elementos mais estruturadores nessa constatação. Porque ele parece que traz consigo outro sentimento forte que é o perdão. A única coisa que atenua a traição é o perdão. Desde as traições fraternas às de amor e afeto entre homem e mulher. Algumas desculpas existem em forma de clichê, mas que talvez não signifiquem muito na prática. "Quem trai se trai a si mesmo" é um desses clichês. Ponho em dúvidas, mas valho-me do significado disto como forma mais forte de compreensão. Afinal, trair e coçar é só começar? Compete a um grande amor que, por assim ser, tem que perdoar quem não nos ama? Um grande amor tira de nós a auto-estima? Por que um grande amor não serve para os traídos terminarem a relação? Outros questionamentos existem, mas cada um sabe de si e onde o "sapato aperta". Para as relações de conveniência em que um finge que ama e o outro tem certeza que não é amado; um finge que não trai e o outro tem certeza que e traído, talvez não se enquadre neste "tear" de elucubrações focando esse nobre sentimento que é o amor e esse outro não tão   nobre, mas importante que é a traição.
Particularmente acho que o homem (ser humano) não nasceu para a monogamia. Contudo, defendemos o amor em sua legitimidade e não concordamos com a traição porque existe uma ética igualmente legitimada que fica rompida. O certo é que ainda não fomos capazes de compreender com mais objetividade, sentimentos como o amor e a traição. Eles continuam vivendo dentro de nós com todas as suas contradições, principalmente o amor – fonte da vida e da felicidade; estado de espírito que muitos são os que buscam mas poucos de fato alcançam essa ventura.

 

Carlos Sena – Bom Conselho - PE