AMOR VIRTUAL.  

 

Por Carlos Sena

 

A modernidade tem nos permitido acesso a bens de consumo importantes. Conseguiu, via ciência e tecnologia, dotar a medicina de avanços que se refletem na longevidade da espécie humana, além do conforto que os bens materiais nos proporcionam. O lado mal da modernidade, como o arsenal de armas atômicas das grandes nações do mundo, provoca medo. Contudo, esse é o preço que os poderosos nos impuseram a pagar.

A modernidade é real na vida de todos. Impossível imaginar o mundo sem internet, sem celular, sem todos os apetrechos eletro eletrônicos que nos circundam. O que nos conforta diante de tanta virtualidade é que pequenas coisas jamais serão alteradas em sua essência, como O AMOR. As redes sociais como Orkut, Facebook, Badoo, tentam virtualizar as relações. Talvez até consigam avanços importantes, haja vista reunir "on line" milhares de pessoas nas mais variadas formas de bate-papo. Há uma verdeadeira "peste" de sites de relacionamentos igualmente investindo, provavelmente, na fragilidade das pessoas: timidez, solidão, decepção afetiva, dificuldades outras de encontrar face-a-face. Essas redes sociais, certamente que têm alguma legitimidade na proposta interpessoal virtuais. Afinal, o mundo não pára e tudo se transforma de um dia para o outro. A ninguém mais é dado o direito de ignorar o poder da internet a quem compete manter todas as redes de relacionamento. O computador é hoje mais presente em nossas vidas do que muitas pessoas. Contudo, o sucesso da construção virtual da afetividade é questionável: há muita mentira, jogo de sedução, malandragem, fantasia, pedofilia, prostituição, etc., eivando os namoros virtuais. O lado bom disto é a certeza de que nada substitui a magia que só o "olho no olho" proporcionam. Há incontáveis pessoas que fazem sexo via CAM, ao vivo. Há outras tantas que fazem da net um divã: se dizem ricas sedo pobres, bonitas sendo feias; boas sendo más. Talvez isto reforce nossa torcida em função de que o AMOR verdadeiro jamais seja, em sua essência, patrocinado pelas redes sociais de relacionamento. Nós, humanos, temos que compreender que o amor, por ser grande, é infinito e atemporal.

Um jesto, um olhar, um afago, um colo, um lugar à mesa, um cheiro no ar, um canto na cama, um toque magistral, um cheiro particular, são alguns ingredientes que só a relação construída "ao vivo" proporcionam. Neste sentido, as benesses da modernidade têm seus valores intrínsecos, mas não substituem o talento humano da conquista. Um carro ultra moderno pode até contribuir para o início de uma relação, mas duvido que seja definitivo para manutenção de um grande amor. Um grande amor só assim se define em função do que consegue ser em seus mistérios. Amor sem mistério, sem segredos, talvez seja o que se quer fazer "modernizando" as relações via redes sociais.

O arsenal de armas atômicas que poderá nos levar a sucumbir da face da terra, não destruirá o amor. Desde a idade da pedra que o homem se encontra no amor. A vida é coisa de Deus dada a dois seres. SE chamaram Adão e Eva, Adão e Ivo, não importam. As cores do amor não são visíveis aos olhos. O verdadeiro amor tem cor de sentimento, tem cor de sedução, tem cor de sim, jamais de senão.

Não torcemos por um mundo sem internet, sem ORKUT. O que não compreendemos é a inversão: pessoas cujas vidas são a própria internet e seus derivativos. Conseqüência? Filhos sem limites, angustia, solidão a dois, crises existenciais. Nunca ouviram um galo cantar, nunca escutaram um radinho de pilha, nunca apreciaram um por de sol, nunca disseram que amam alguém, nunca conversaram com pessoas simples, nunca se perderam numa avenida de uma grande cidade, nunca beberam um copo de caldo de cana, nunca comeram pastel de feira, nunca ouviram Reginaldo Rossi, nunca provaram um gole de cachaça, nunca ensaiaram um oração antes de dormir, nunca nada.

Carlos Sena – Bom Conselho-PE