UMA PIRUETA, DUAS PIRUETAS...
Respeitável público, o horário eleitoral gratuito!
Caro leitor, você não se sente assim: como num circo? Cercado por malabaristas, equilibristas e animais adestrados? Sob as luzes do picadeiro, esses artistas criam um mundo de fantasias; envolvem-nos com sonhos, com promessas milagrosas e nós achamos aquilo tão bonito que voltamos e pagamos o ingresso novamente. O dinheiro desviado, as negociatas, a verba extra para esse ou aquele deputado se perdem na ‘caixa mágica número 2′. Somos iludidos facilmente e os poucos que percebem o truque só comentam às escondidas para não escandalizar os pequenos, tão entretidos com as musiquinhas de campanha. Cria-se, assim, uma relação de troca entre esses artistas que usam tão bem os recursos circenses e nós, espectadores: eles não sabem de nada, mas fazem de tudo; nós sabemos de tudo, mas não fazemos nada.
Se faz tempo que essa tenda está armada? Pois ela veio na caravela com Cabral, meu amigo. Já passou pela mão de muita gente e hoje está legitimada pelo jeitinho brasileiro de ser. É isso mesmo: conseguimos distorcer a virtude nesse país. Aqui, logo-logo, a corrupção, a enganação e o enriquecimento a qualquer custo serão os padrões. Na verdade, acho que já vivemos dessa maneira. Só falta registrar em cartório – desde que o dono deste também esteja no bolso.
Acho bom o senhor e a senhora irem doutrinando seu filho desde já:
- Pai, quero ser médico quando crescer.
- Médico, meu filho? Mas médico tem de trabalhar em condições deploráveis, em hospitais caindo aos pedaços, sem remédios… bom mesmo é ser político.
Eu esperava que, depois de toda a bandalheira desvendada, pelo menos o discurso mudasse. Mas o circo é tradição meu povo! Além do mais, quem assiste ao espetáculo quietinho ganha cachorro quente de graça. Por que mudar as coisas, não é mesmo? Por que lutar contra esse mundo de magia onde a moeda some do seu bolso e, em vez de ir parar atrás da orelha, pega escala direta para Cayman?
Em todo caso, não desanime, você não está sozinho na arquibancada. Estamos todos juntos, assistindo a esse palavreado de terno e gravata. Eles não erram, ensaiam todo dia e têm o chicote afiado para manter o leão acuado. Agora, pensando bem, só há um personagem do qual eu sinto falta: o palhaço. Ah, não!, acabo de olhar no espelho e encontrei o nariz avermelhado.
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