10. Um sonho no comboio Paris-Roma
10. Um sonho no comboio Paris-Roma
Cheguei à capela Sistina enquanto atravessava os Alpes pela noite dentro. Sonhei que em vez de ter tomado aquele comboio na estação de Bercy, havia entrado numa cabine de teletransporte em Bercy e num enquanto o diabo esfrega um só olho da cara, vi-me a olhar para o tecto da capela Sistina dentro da capela Sistina.
Lembro-me de ter no sonho perguntado se isto era possível, e lembro-me da resposta que recebi, só não me lembro se de mim ou se de outro alguém: vê lá as mensagens do telemóvel. É igual. Foi o que fizeste Domingo na sala das Mona Lisa com a tua filha Filipa.
Acho que acreditei naquele sonho, quando estava naquele sonho, só deixei de acreditar quando acordei e lamentei não ser verdade porque tinha os ossos todos moídos e os músculos doridos. Esta viagem nem sempre com luz e quase sempre sem ar condicionado, fez-me desejar ir daquela maneira à capela Sistina.
Não teria os ossos assim nem os músculos assado, mas não teria conhecido o Mário de Assis. Que subiu para o comboio em Dijon e desceu do comboio em Florença. Que conhece Portugal. Que tem idade para ser meu avô e me contou coisas assombrosas sobre a sua terra.
Como fui de comboio conheci o Mário e ainda bem que o conheci. Só tenho a lamentar o seu ressono.
Roma, 8 de Julho de 2010
Mário Moura