SÓ SE APRENDE ANDAR, ANDANDO!
“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.” (Berthold Brecht- O analfabeto político).
Li recentemente uma crônica publicada no Recanto que fazia referência à importância do voto consciente, abordando o despreparo da maioria da população em fazer uma escolha consciente. Gostaria de cumprimentar o autor, pela forma envolvente e articulada de expor suas idéias, denotando um grande preparo intelectual e preocupação em bem informar. Portanto, trata-se de uma leitura interessante, visto os cuidados com a boa gramática e o grande conhecimento de conjuntura nacional.
Concordo plenamente que o nível de educação seja fundamental para eleger indivíduos competentes para o exercício de um cargo público. Acrescento ainda, que a educação formal em nosso país, salvo raras e honrosas exceções, não têm preparado o nosso povo para o sufrágio das urnas. Na realidade, o processo educacional tende a reproduzir as distorções que ocorrem na sociedade, perpetuando-as.
André Mengo (autor da crônica citada anteriormente) defende um aprimoramento do sistema através do voto consciente, dado voluntariamente. Entretanto, na minha modesta opinião, tal atitude limitaria milhões de brasileiros a participar das eleições. O voto é um direito do cidadão, mas também uma obrigação para com o restante da coletividade. Na atual conjuntura, o voto sem obrigatoriedade, implicaria na supressão da maioria das pessoas do processo democrático. Cuja falta do exercício, levaria inexoravelmente, essa parte da população, a esquecer mais ainda sua importância, agravando a situação. E também, os eleitos perderiam a legitimidade democrática, pois representaria apenas uma parcela do povo, não a maioria.
Por outro lado, questiono: quanto tempo levaria nosso povo a se educar convenientemente? Quando isso acontecesse, será que ele estaria realmente preparado para votar? Acredito que a capacidade de não votar bem, estaria muito mais associada, a questão da ausência do hábito, do que a falta de educação. Ou melhor, o exercício do voto é uma prática altamente pedagógica.
A história recente do país mostrou a veracidade desse raciocínio. A nação brasileira ficou sem direito ao voto para presidente durante duas décadas. Após esse período, o povo votou em um indivíduo fisicamente imponente, cujo único mérito apresentado, foi uma pretensa caça aos “marajás” do serviço público. Entretanto, a assembléia constituinte eleita por milhões de votos conscientes e “inconscientes” produziu uma nova constituição. A qual possibilitou a saída do referido mandatário, por improbidade administrativa.
Depois, as eleições seguintes colocaram na presidência: um FILÓSOFO, em seguida, um OPERÁRIO. Todos os dois com currículos de intensa participação política. Apesar das dificuldades, representaram um avanço no crescimento sócio-econômico do país. Basicamente, FERNANDO HENRIQUE iniciou o processo de desenvolvimento e LULA ampliou o que foi iniciado por FHC. Hoje, De acordo com as pesquisas de intenção de voto, os dois principais candidatos a presidência da república, mostraram não serem personalidades despreparadas. Pelo contrário, todos os dois foram ministros de Estado, um deles governou o principal estado do país. Uma demonstração visível de evolução política do povo brasileiro.
Assim, “só se aprende andar, andando”. Ou melhor, “só se aprende votar votando”. No meu entendimento, a prática mostrou a lógica dessas afirmações. Caso optasse pelo voto facultativo, estaríamos facilitando a omissão política. A eleição, não representaria o desejo da maioria. Sempre é bom lembrar, que o desenvolvimento em moldes democráticos de qualquer povo, não é um processo rápido e fácil. Na realidade, é lento e árduo. A nossa democracia tem pouco mais de duas décadas. Enquanto que, a americana e de muitos países da Europa são seculares. Apesar de não concordar com o voto facultativo, respeito o pensamento de André, lembrando que o assunto é complexo, sendo merecedor de mais reflexão.