Sem pressa nenhuma
Não tenho pressa. Com ela ou sem ela eu vou chegar lá, de qualquer jeito. Lá, no fim desta vida terrena. Então, para que correr?
Eu sempre trabalhei. Este sempre significa depois que conclui o segundo grau: Curso de Formação para Professores, assim era chamado. Desde então nunca mais parei. Sempre fiz qualquer coisa que precisasse ser feito. Menos trabalhar em casa. Nunca gostei de lavar, passar, arrumar. Descobri que gostava de cozinhar já na maturidade. Apesar de trabalhar muito sempre tive tempo para a preguiça. Pois é, eu sou preguiçosa. Adoro ficar sem fazer nada, olhando para o céu, observando o desfile fantástico das nuvens ou o passeio da lua com seu séquito estelar. Ou fiscalizar o trabalho das formigas enfileiradas carregando na cabeça folhas verdes para o ninho.
Gostava do tempo em que o tempo custava a passar. A distância entre o amanhecer e o anoitecer era imensa. Mais devagar ainda passavam os dias até chegar o domingo. E de Natal a Natal durava uma eternidade. Eram bons esses tempos. Eram tempos preguiçosos em que se podia sonhar, construir fantasias. Mas não sou saudosista. Acho que tudo tem sua hora e que hora boa é essa em que estou vivendo. Desde que de hora em hora eu possa parar e olhar para o céu e ficar nem que seja por um minuto por conta da preguiça.
Gosto de trabalhar. Não saberia viver sem fazer alguma coisa. Incluindo nessa alguma coisa o fazer nada. O que não gosto é de fazer sempre a mesma coisa. Ou fazer coisas estanques. Gosto de trabalhar, divertir e aprender, tudo ao mesmo tempo. Tem hora que é preciso dar mais ênfase para algum desses itens. Então a gente dá. Até fazendo nada eu gosto de fazer outra coisa junto. Fazer nada sem se divertir é realmente horrível.
Houve um tempo em que me diziam: Você precisa aproveitar mais a vida! Eu não sabia o que responder por que o que eu sabia responder não seria compreendido por quem me aconselhava. E nos dirigíamos para o trabalho, eu feliz, me divertindo, ela, resmungando. Tem gente que pensa que a vida só existe depois do trabalho. Ou das obrigações familiares. A vida dessas pessoas é curta porque dura poucas horas.
Dizem que a preguiça é a mãe de todos os vícios. Domenico de Masi, o pensador italiano, diz que tem ódio a ela. Ele gosta é do ócio, desde que seja criativo. Eu penso que é só uma questão de semântica. Ócio e preguiça acabam sendo a mesma coisa. Mas se convencionou que preguiça é algo tedioso, que entorpece, que o preguiçoso é aquele que não faz outra coisa a não ser nada. Ora ócio ou preguiça sendo algo que se apossa de um ser humano o tempo todo sem permitir que ela desenvolva outras atividades é algo doentio, provavelmente ligada à inanição. Assim como o Jeca Tatu do Monteiro Lobato. A preguiça de que falo e da qual me orgulho é aquela que não lhe permite enlouquecer, mas sim possibilita o seu crescimento interior. É um relax para o corpo, a alma e o espírito. Tem coisa melhor do que no meio de um trabalho estafante você parar tudo e dizer: Tiau, volto amanhã. E aí sair caminhando calmamente em busca de um lugar qualquer onde você simplesmente relaxa, sem fazer nada a não ser deixar o pensamento fruir, sem nenhum controle?
As coisas que existem e que foram criadas pelo homem primeiro existiram em pensamento. Não conseguimos acompanhar o desenvolvimento técnico-científico. Cada conquista gera outras inúmeras conquistas, mas antes de experimentar fazer é preciso sonhar. Eu por exemplo sonho com coisas que sei que alguém fará mesmo que eu não mais esteja aqui para ver. Sei que um dia chegaremos antes de partir e então teremos que modificar todo o nosso conceito de tempo. Sei que um dia voaremos como anjos ou pássaros mesmo sem asas: aperta-se um botãozinho em um bracelete e lá iremos nós desafogar o trânsito caótico. Circularemos pelas ruas com nossos patins ultra velozes e seremos capazes de compreender todas as línguas sem necessidade de estudá-las: teremos um tradutor instantâneo em nossos cérebros.
Então, para que pressa? Tudo acontecerá na hora que tiver que acontecer, nem antes nem depois, estando nós aqui ou não. (02/09/2010)
Não tenho pressa. Com ela ou sem ela eu vou chegar lá, de qualquer jeito. Lá, no fim desta vida terrena. Então, para que correr?
Eu sempre trabalhei. Este sempre significa depois que conclui o segundo grau: Curso de Formação para Professores, assim era chamado. Desde então nunca mais parei. Sempre fiz qualquer coisa que precisasse ser feito. Menos trabalhar em casa. Nunca gostei de lavar, passar, arrumar. Descobri que gostava de cozinhar já na maturidade. Apesar de trabalhar muito sempre tive tempo para a preguiça. Pois é, eu sou preguiçosa. Adoro ficar sem fazer nada, olhando para o céu, observando o desfile fantástico das nuvens ou o passeio da lua com seu séquito estelar. Ou fiscalizar o trabalho das formigas enfileiradas carregando na cabeça folhas verdes para o ninho.
Gostava do tempo em que o tempo custava a passar. A distância entre o amanhecer e o anoitecer era imensa. Mais devagar ainda passavam os dias até chegar o domingo. E de Natal a Natal durava uma eternidade. Eram bons esses tempos. Eram tempos preguiçosos em que se podia sonhar, construir fantasias. Mas não sou saudosista. Acho que tudo tem sua hora e que hora boa é essa em que estou vivendo. Desde que de hora em hora eu possa parar e olhar para o céu e ficar nem que seja por um minuto por conta da preguiça.
Gosto de trabalhar. Não saberia viver sem fazer alguma coisa. Incluindo nessa alguma coisa o fazer nada. O que não gosto é de fazer sempre a mesma coisa. Ou fazer coisas estanques. Gosto de trabalhar, divertir e aprender, tudo ao mesmo tempo. Tem hora que é preciso dar mais ênfase para algum desses itens. Então a gente dá. Até fazendo nada eu gosto de fazer outra coisa junto. Fazer nada sem se divertir é realmente horrível.
Houve um tempo em que me diziam: Você precisa aproveitar mais a vida! Eu não sabia o que responder por que o que eu sabia responder não seria compreendido por quem me aconselhava. E nos dirigíamos para o trabalho, eu feliz, me divertindo, ela, resmungando. Tem gente que pensa que a vida só existe depois do trabalho. Ou das obrigações familiares. A vida dessas pessoas é curta porque dura poucas horas.
Dizem que a preguiça é a mãe de todos os vícios. Domenico de Masi, o pensador italiano, diz que tem ódio a ela. Ele gosta é do ócio, desde que seja criativo. Eu penso que é só uma questão de semântica. Ócio e preguiça acabam sendo a mesma coisa. Mas se convencionou que preguiça é algo tedioso, que entorpece, que o preguiçoso é aquele que não faz outra coisa a não ser nada. Ora ócio ou preguiça sendo algo que se apossa de um ser humano o tempo todo sem permitir que ela desenvolva outras atividades é algo doentio, provavelmente ligada à inanição. Assim como o Jeca Tatu do Monteiro Lobato. A preguiça de que falo e da qual me orgulho é aquela que não lhe permite enlouquecer, mas sim possibilita o seu crescimento interior. É um relax para o corpo, a alma e o espírito. Tem coisa melhor do que no meio de um trabalho estafante você parar tudo e dizer: Tiau, volto amanhã. E aí sair caminhando calmamente em busca de um lugar qualquer onde você simplesmente relaxa, sem fazer nada a não ser deixar o pensamento fruir, sem nenhum controle?
As coisas que existem e que foram criadas pelo homem primeiro existiram em pensamento. Não conseguimos acompanhar o desenvolvimento técnico-científico. Cada conquista gera outras inúmeras conquistas, mas antes de experimentar fazer é preciso sonhar. Eu por exemplo sonho com coisas que sei que alguém fará mesmo que eu não mais esteja aqui para ver. Sei que um dia chegaremos antes de partir e então teremos que modificar todo o nosso conceito de tempo. Sei que um dia voaremos como anjos ou pássaros mesmo sem asas: aperta-se um botãozinho em um bracelete e lá iremos nós desafogar o trânsito caótico. Circularemos pelas ruas com nossos patins ultra velozes e seremos capazes de compreender todas as línguas sem necessidade de estudá-las: teremos um tradutor instantâneo em nossos cérebros.
Então, para que pressa? Tudo acontecerá na hora que tiver que acontecer, nem antes nem depois, estando nós aqui ou não. (02/09/2010)