O PAPA É POP, MAS COMEÇA A EXAGERAR
O papa é pop (não, a frase não é minha, é do Humberto Gessinger, eu acho), porém está mais pop do que jamais se pôde imaginar. Ouvi, no canal Globo News, que, entre os dias 16 e 19 de setembro, o papa Bento XVI visitará a Inglaterra e a Escócia. Ok, até aí nada demais, afinal, papa só não viaja mais que presidente brasileiro. Também ouvi que quem se apresentará na missa será a Susan Boyle (aquela do programa de calouros) e, até aí, nada demais também, já que, antes de virar celebridade, cortar o cabelo no Jassa, passar numa boutique chique, fazer plástica, comprar cosméticos milagrosos e ter algumas aulinhas de etiqueta, ela cantava no coral da igreja. Contudo – e aí é que vem a bucha –, a imprensa britânica publicou (está em todos os jornais) que serão cobrados ingressos para que as pessoas possam entrar na missa. Parei!
Que eu saiba, nunca antes na história desse mundinho (melhor mudar um pouco a frase para não acabar tendo de pagar direitos autorais ao Luís Inácio) um papa cobrou para ser visto. Sabe o que isso quer dizer? Das duas uma: ou está todo mundo ficando louco, oba!, de chapéu de luva na cabeça, à la Didi Mocó, e vamos precisar erigir um novo templo ao dinheiro (pois, depois da derrubada do World Trade Center, não tivemos uma outra Meca financeira à - e na - altura); ou o certo mesmo é pagar aqueles famosos 10%, cobrados pelas empresas religiosas cristãs concorrentes à Católica, antecipadamente (bom, pelo menos eles cobram, e não roubam e tacam fogo em “bruxas”, como a Igreja Católica fez durante toda a Idade Média).
Mas, se é isso, finalmente entendi. É como um fundo de investimentos a longo prazo. Vou rever meus conceitos, pois vai que eu chego lá em cima (quer dizer, se é que eu vou lá pra cima... ou melhor, se é que lá em cima existe) e me cobram, à vista, para ver Deus? Não tenho nem para comprar um All Star no dinheiro vivo, que dirá para ver Deus. Santo Antônio? Imagina, deve ser caríssimo! Haja vista a demanda de mulheres, ávidas em casar aqui na Terrinha, que ele acabou não atendendo (minha irmã achou um santinho naquele famoso bolo já faz uns três anos e, até agora, necas) e devem pagar os tubos para ter um tete-à-tete com o casamenteiro. Talvez eu consiga pagar pra ver, sei lá, Santa Efigênia; ou – minha última esperança – torcer para que São Francisco tenha continuado lá em cima com os votos de pobreza que fazia aqui embaixo.
O pior é que a visita de Bento XVI ao Reino Unido será a primeira oficial de um papa ao país, já que a viagem realizada por João Paulo II há 28 anos teve caráter apenas pastoral. Ou seja, os caras resolveram ter lucro com a bagaça justo quando o lance todo visa uma reaproximação entre o Vaticano e a Igreja Anglicana... ah, vocês conhecem a História, né? Bom, se não, eis o resumo da ópera:
As irmãs Bolena (Maria e Ana) ficaram de bolinação (trocadilho infame, foi mal) com o Rei Henrique VIII enquanto este era casado com Catarina de Aragão (princesa de Espanha). Como elas eram bem mais fogosas do que a Rainha Catarina (bom, se elas foram parecidas, só parecidas, com as duas atrizes que as fizeram no cinema – Scarlett Johansson e Natalie Portman – eu dou razão ao malandro) o da coroa pirou o cabeção e decidiu, assim, como se não fosse nada demais, se separar da rainha pra poder casar com uma delas (sem deixar de furunfar com a outra, óbvio). Só que ele não podia, pois só era rei porque foi Deus (aquele mesmo, cujo representante cobrará de 10 a 25 libras pelo ingresso para uma missa... imagina, então, quanto cobram por coroa?!) quem decidiu que ele fosse filho do pai dele e, assim, assumisse o trono por herança “divina”. Daí o Henrique subiu nas tamancas, rodopiou 360º e mandou:
- Eeeeeeeeepa!, quem manda nessa porra sou eu. Se não posso me separar da mulher, me separo da Igreja e escrevo minhas próprias regras. Afinal, eu sou uma quase mulherrr (ah não, perdão, essa quem dizia era a Vera Verão...)
Bom, voltando, o Henrique estava realmente disposto a arriscar entrar em guerra, e tudo mais, com a “Santíssima Igreja Católica Apostólica Romana” para ter as irmazinhas serelepes em sua imperiosa cama sem que ninguém ficasse lhe passando sermão ou penitência. E a bronca não era pequena: a Igreja tinha poder, influência, controle sobre a população e um exército próprio - sem falar dos aliados -, tudo bancado por muito ouro, obras de arte, propriedades, títulos, etc. (mas a parada não é meramente transcendental?); ou seja, o Henricão foi macho pacas, vamos falar a verdade.
Peitando geral (grande parte de seus súditos era contra), ele revogou todos os poderes da Igreja na sua famosa ilha. Criou uma nova religião, da qual ele seria o bam-bam-bam (e até hoje é assim, já que a chefa-suprema da Igreja da Inglaterra é a Rainha Elisabeth II). Separou-se da Catarina, que também, pra ser bem sincero, foi obrigada a se juntar ao danadinho do Henrique já que as famílias eram poderosas, ricas, religiosas e monárquicas – fato este que, pasmem!, só era assim por se tratarem de dinastias ungidas e escolhidas por Deus e coroadas por seu servo mais batuta: o papa. Casou-se com uma Bolena primeiro, com a outra depois (e ainda com mais três, totalizando seis casamentos ao longo da vida) e no fim, talvez entediado, mandou matar todo mundo enforcado por acusações de incesto e traição (vejam o filme ou leiam um livro sobre). Ufa!
Peraí, peraqui, peralá! Agora as coisas ficaram claras e limpas como se eu tivesse usado OMO Dupla Ação: tudo isso não passa de uma vingança, e em prato bem gelado. Muito melhor que enredo de novela mexicana, minha gente! O danado do papa volta à terra (rica e poderosa) que chutou sua igrejinha pela portas dos fundos e, só de birra, decide limpar os bolsos dos súditos da rainha – chefe da organização inimiga –, que, coitadinha, além de herdar a pendenga custeada pelo ancestral, ainda tem de encarar escândalo atrás de escândalo de filho, neto, nora (vai ver é carma...).
Ou seja, no fim das contas, o Henrique VIII, a meu ver, é que saiu no lucro, pois levou pra cama a Scarlett e a Natalie (se falarmos apenas das famosas, pois imagina a quantidade de aspirantes a atriz que passaram por seu sofá imperial e que a História não conta?) enquanto o papa vai ter de se contentar em ficar ouvindo a Susan Boyle cantar Les Misérables... Eu, se sou o Bento, chutava o balde e fundava minha própria religião; parece ser bem mais divertido.
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