O sentido da vida

 

Passei a conviver com ele mais amiúde há mais ou menos oito anos. A conversa nunca mudou - ele sempre dizendo que ninguém gosta dele e que a única coisa que lhe interessa é amar e ser amado. Mentira. Nunca foi. Ele nem ao menos sabe o que é o amor. Talvez queira ser amado, o que significa simplesmente que gostaria que o mundo girasse em torno dele. Mas não amar. Não consegue compreender que o amor é como uma rua de duas mãos, onde os sentimentos se cruzam. Eu, desisti de tentar fazê-lo compreender. Minha vida é muito ruim,  diz. E implora por ajuda. No princípio eu dava – estendia a mão e ele agarrava o braço inteiro. E nem se importava que o braço sangrasse e eu ficasse extenuada.  De verdade, mas de verdade mesmo, a única ajuda que quer é o apoio incondicional aos seus desmandos. Se a ajuda chega de outra forma, ele ignora completamente. Desaparece. Depois volta, afirmando que agora é sério– vai fazer tudo o que lhe for sugerido para encontrar o seu caminho. Faz nada. Agora deu para falar que a sua vida não tem sentido e implora chorando que eu encontre um sentido para ela. Não adianta dizer que ninguém pode dar sentido para a vida do outro – o sentido da vida tem que vir do interno, da vontade de querer muito uma coisa, seja ela material, emocional ou espiritual. Tive que construir uma muralha entre nós para me defender e não ser arrastada pela sua loucura. Mas de vez em quando abro uma brecha e tento novamente .Mostro-lhe exemplos de como vidas ruins foram transformadas pela dedicação a alguma coisa boa, um esporte, um tipo de arte, o emprenho nos estudos, um trabalho voluntário. Absolutamente nada lhe interessa. Se deixassem, o que daria sentido a sua vida, seria passar o tempo construindo intrigas e as administrando. Mas as pessoas andam ficando espertas e não permitem que isso aconteça mais tão facilmente.
 
Adiantaria eu lhe dizer que a essa altura de nosso desenvolvimento é impossível encontrar um sentido universal para a vida e que  o único sentido que podemos encontrar é aquele que lhe damos e portanto particularíssimo? E que essa nossa preocupação em encontrar o sentido da vida muitas vezes acaba nos impedindo de viver?
 
Todas as religiões são capazes de definir claramente qual é o sentido da vida. E assim, aqueles que seguem mesmo que a meia boca uma religião, sabem qual deveria ser o sentido de suas vidas. E mesmo assim não são felizes.
 
Filosofias também possuem pistas bem definidas do que possa ser o sentido da vida. Pessoas estudiosas procuram nessa busca alheia também encontrar o sentido para a sua própria vida. E nem por isso podem ser considerados como pessoas felizes.
 
Os ateístas também são capazes de apresentar um sentido para a vida – mesmo que seja a negação de sua existência. E isso também não traz felicidade.A ligação entre um sentido para a vida e ser feliz é muito forte. As pessoas precisam de saber que suas vidas têm um sentido para serem felizes.E é sobre isso que tenho pensado ultimamente. E pelo que eu ando lendo, muita gente boa também. Por que damos tanta importância a essa tal de felicidade?

Em um dos estudos que fiz sobre a vida e seu sentido, estudo que durou anos e que de certa forma transformou a minha vida para melhor, está a afirmativa de que felicidade são pequenas porções de coisas boas. Eu aprendi também que essas coisas boas geralmente são bem simples. E essas coisas simples me fazem ter uma vida satisfatória. Eu até diria uma vida feliz, se não achasse muito melhor ter uma vida interessante do que uma vida feliz.

Se as pessoas aceitassem conselhos eu lhes diria: parem de procurar  pela felicidade e pelo sentido da vida. Procurem ter uma vida interessante, aberta aos acontecimentos e ao conhecimento, que essa tal de felicidade vai acabar se instalando de mansinho em sua vida e lhe dar um sentido. E se você nem notar isso não tem a menor importância porque estará vivendo e isso é que importa.