“SE”...

Por Carlos Sena


 

  

“SE” tem conotação simbólica forte. Está sempre presente em nossas mais íntimas elucubrações. “SE” é como se fosse uma ponte para as nossas incertezas diante de fracassos ou de sucessos, dependendo da forma em que nós, humanos, encaramos certos acontecimentos. “SE” é como se fosse uma janela para o futuro que só a Deus pertence. Insistimos em ser um pouco “deus”, quando sempre entendemos a vida em função de seu tempo passado, presente e futuro. Sinto que precisamos dessa alternativa como forma, talvez, de justificativa para o incômodo que temos diante de situações pouco confortáveis. “Se” eu fosse mais jovem... “Se” meu filho não tivesse comprado uma moto; Se não fosse a chuva, se não pensasse, se não houvesse, se não acontecesse... “SE”.

Felizmente que nossa vida na terra é passageira. Como seríamos diante da certeza de que o homem teria descoberto o elixir da VIDA ETERNA? Talvez se agravasse ainda mais a angustia, a solidão, o egoísmo. Pois uma “descoberta” dessas, com certeza, não tornaria o ser humano livre de seu “SE”. Os mistérios que o futuro guarda só pra ele, certamente continuaria guardando, posto que não nos é dado o direito de viver na tridimensionalidade.

Talvez um dia a gente consiga se preocupar menos com o futuro. Ele é o maior culpado pelos nossos principais “SE”, pela incapacidade que temos em decifrar a vida de acordo com as nossas necessidades. Imagino que, quanto mais o homem aceitar os acontecimentos, quanto mais desenvolver a paciência para com o outro, menos terá o “SE” em sua vida. Mas isto não nos livra da natureza inerente que temos de, quase sempre, estarmos buscando culpados para as nossas mazelas.

Às vezes nos ocorre acreditar numa visão psicanalista do “SE”. Talvez porque ele (o “SE”) ocorra como justificativa inconsciente dos nossos fracassos, mais que os sucessos. Sempre quando caímos e temos dificuldade de nos levantar, achamos que “se mamãe fosse viva”, eu não estaria passando por isto, por exemplo. Por outro lado, a gente não tem poder para saber a diferença diante de um fato que aconteceu de uma forma e não de outra. Exemplo: uma pessoa foi assaltada no trajeto do aeroporto. Por conta disto, perdeu o vôo e o avião em que iria caiu e todos morreram. Se ela não tivesse sofrido o assalto, teria embarcado no avião? Quem pode garantir essa nova realidade? Nesse caso, há quem prefira atribuir à doutrina espírita a compreensão, mas há os que não acreditam em espiritismo. Nesse caso, como fica a compreensão?

“SE” correr o bicho pega, se ficar o bicho come, como costumamos dizer. No caso do avião, por que não houve outras pessoas com impedimentos de embarque? Será que não é porque chegou a hora daquelas pessoas morrerem? Mas já houve casos em que o piloto teve um infarto e todos morreram. Foi a hora do piloto que coincidiu com a hora dos passageiros? Se assim fosse, não seria o justo pagando pelo pecador?

“SE” tivéssemos o poder de prever o futuro, talvez a justificativa exata fosse encontrada. Melhor aceitar os fatos. Se eles acontecem desta ou daquela forma; se eles só envolvem a mim ou a outras pessoas; se nos fazem feliz ou infeliz, só nos resta a contrição. Viver é, sobretudo, compreender as circunstâncias que nos cercam; é acreditar que a “senha” pra entrar no futuro está no “bolso” do Criador. Talvez nos sirva de consolo saber que “SE” a vida nos der um limão, poderemos fazer uma limonada. Não custa nada exercitar a resiliência. Não custa nada sofrer menos por aquilo que não podemos modificar, mas não devemos perder a capacidade de investir no conhecimento – só ele nos pode conduzir por caminhos menos incertos.

 

 

Para reflexão, frases de Mário Quintana:

 

“Se alguém te perguntar o quiseste dizer com um poema, pergunta-lhe o que Deus quis dizer com este mundo”...
Mário Quintana

Se eu amo o meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?
Mário Quintana

“Se me esqueceres, só uma coisa, esquece-me bem devagarinho”.
Mário Quintana

“Se um poeta consegue expressar a sua infelicidade com toda a felicidade, como é que poderá ser infeliz”?
Mário Quintana