VELHO OU IDOSO?
Por Carlos Sena
A gente não se acostuma com o tempo. Por mais que admitamos que dentro de nós sejamos jovens, que a idade que temos é a que sentimos, o Senhor Tempo – todo poderoso se apodera de nós. Se não tivermos preparo, judia bastante. Porque essa convivência com o tempo se estabelece em nós desde criança em suas formas de concessão mais truculentas: à juventude tudo, à maturidade um pouco menos e à velhice nada.
Partindo do sentido prático da vida, só não envelhece quem morre jovem, mas novinho ninguém quer morrer. Ocorre que muitas pessoas, diante dos avanços da medicina no particular, e de algumas benesses da modernidade no geral, estão chegando à longevidade. Para maioria dessas pessoas estabeleceu-se certo conflito: por um lado, elas passaram a não se enquadrar nas expectativas clássicas que acompanham os que envelhecem nestes novos tempos; por outro, a sociedade parece insistir em reduzi-las a condição de velhos que "apenas esperam a morte chegar". Quem fica na berlinda sentimental e afetiva? Como sempre, os novos velhos, se é que podemos dizer assim. Talvez pela moda do politicamente correto em que muitos verbalizam uma coisa, mas por dentro sentem outra. Acreditar nisto, talvez fosse o mesmo que acreditar que criança não morre. Qualquer um morre, bastando que esteja vivo.
Fica, pois, a dimensão contraditória do humano: ficar velho é sinal de ter vivido com razoável sucesso físico. Ficar velho com lucidez e com qualidade de vida é uma dádiva que merece comemoração. Ficar velho com lucidez e qualidade de vida, estabilidade financeira, saúde razoável, é bênção de Deus.
Aos poucos estamos abolindo o sentido de que os velhos só servem pra lembrar-se do passado, pra tomar conta de netos, gastarem o dinheiro da aposentadoria com presentes para familiares e até ajudar parentes desempregados. Aos poucos o velho (ou idoso?) vai se estabelecendo em sua casa; vai deixando de ser "peso" para muitos; vai deixando de morar no quartinho do fundo do quintal; vai tendo vez e voz, graças a sua própria consciência social, pois nos países do chamado primeiro mundo, o idoso (ou velho?) mora geralmente sozinho e o Estado lhe presta toda assistência.
Lugar de velho é com todos juntos, pois a troca entre gerações é o que faz a cidadania se recuperar dos tropeços dessa modernidade nem sempre politicamente correta. Velho ou Idoso? Respeito não está na dimensão direta do politicamente correto, nem inversa do socialmente aceito. Quem de moço não morre de velho não escapará. A vida é um "trem" em que uns tiram passagem na primeira classe, outros na segunda e outros na terceira. Mas todos estão no mesmo trem. Talvez nos falte o exercício diário da convivência entre os diferentes: idosos, jovens, homens, mulheres, gays, negros brancos, índios, amarelos, etc. Relacionar-se apenas com os iguais transforma a vida numa melodia de uma nota só: dó maior.
NB – tenho 59 anos. Sou vaidoso, lúcido, lúdico e feliz.