Uma pequena oração ao Deus dos Insones (EC)
 

Não, eu não tenho insônia. Apenas não gosto de dormir a noite. Por isso sou incapaz de dormir em horário civilizado. O que significa que passo noites acordadas e após algum tempo simplesmente desabo e passo dormindo o dia todo e se deixar, emendo a noite. Isso não significa que de quando em vez não me bata uma vontade de dormir a noite e ela a D. Insônia não me permite.
 
Há algum tempo atrás eu escrevi e postei no site do Recanto das Letras um pequeno poema que chamei de Uma simples canção. Foi publicada no dia primeiro de abril de 2008. Foram 69 entradas e vinte comentários. A última vez que alguém a leu e comentou foi no dia doze de agosto de 2008. Fui reler alguns comentários. Algumas pessoas desapareceram completamente de minha vida, mas outras continuam a preencher o vazio das noites de insônia, muitas vezes compartilhada.  E assim, em ordem mais ou menos decrescente de postagem eu os fui reencontrando e lendo as palavras bonitas que escreveram e que têm tornado mais rica a minha vida de escritora.O último comentário foi feito por Nilda Dias Tavares e ela diz que vai rezar a oração que escrevi para o Deus dos Insones todas as vezes que tiver insônia. Faz muito tempo que não leio e nem sou lida por ela. O mesmo acontece com Gustavo Gollo e ele perguntou-me se sei interpretar sonhos. Não me lembro se respondi, mas se respondi devo ter dito que sim, porque durante algum tempo li tudo sobre o assunto, desde as bobagens até estudos sérios. Mas, se fui completamente honesta devo (ou deveria) ter-lhe dito que os sonhos devem ser interpretados pelo próprio sonhador porque os sonhos são imagens do inconsciente. A mim fez muito bem interpretar os meus sonhos,  mas nunca os considerei como presságios, apenas fruto do que sou e do que vivo, inclusive esperanças e ilusões. Mas, não é isso que agora importa, afinal estou falando daquelas pessoas que deixaram algo de si para mim após ler minha simples canção. Alguns deixaram comentários genéricos, do qual não discuto a validade, aqueles do tipo exclamativo, mas outros deixaram mais do que palavras expressando um sentimento, deixaram coisas de si que vão se conservando fixas em meu coração. The Rain Song comentou que a minha canção seria útil para ele também, porque costuma de vez em quando lutar contra a cama. Tom, o meu amigo irreverente, que um dia se encheu de tudo aqui e foi embora ( e eu não descansei enquanto não o encontrei em outras paragens). Pois o Tom classifica de misterioso o fato de quanto mais queremos que as horas passem mais elas demoram a passar. Querência que temos nas noites de insônia e que eu utilizo muitas vezes para dar um pulinho em Arantina um lugar perdido entre as montanhas mineiras e ele, o Tom, para ir até o Junco, o arraial que se tornou cidade, mudou de nome e quem sabe, até perdeu o canto da Acauã.  Meu amigo Tom, que amo por ele mesmo, amo também porque é o marido da Edna, o homem que ela escolheu como companheiro (ele pensa que foi ele quem a escolheu. Mas, podem acreditar, em casos de amor, sempre quem escolhe é a fêmea). Também passou por lá a Fernanda Araújo que conheci aqui no Recanto e de quem logo gostei e que mora ali pertinho em Divinópolis.
E o mais interessante é que uma de minhas melhores amigas fora do mundo virtual, a Maria Neuza, que morava aqui em Lavras pertinho de mim e mudou-se para Divinópolis  se tornou amiga logo dela, a Fernanda, que acha difícil contar carneirinhos. E tem também o comentário de Karina, uma jovem encantadora que não freqüenta o Recanto, mas me encontrou ali e deixou palavras carinhosas, o Edson Gonçalves Ferreira, que também é de Divinópolis e amigo da Fernanda, dizendo que vai cantar mais para eu dormir e ainda avisa que tem um áudio em minha homenagem. O Frodo Oliveira, dizendo que ainda bem que existe a TV para combater a insônia. Duas poetas que considero entre as melhores que escrevem no Recanto , a Zélia Nicolodi e a Maria Luisa E’Errico Neto. A Leila Lage aconselhando aqueles para quem o sono não vem a pensar coisas boas.E o Bernard Gontier, amigo e parceiro de letras, que diz não saber que havia um Deus para os insones e eu afirmo que existe sim, pelo menos no Universo que criei, onde Deus não querendo se ocupar de coisas pequenas criou pequenos deuses para isso e um deles é o deus dos insones.A Angela Rodrigues Gurgel, amiga querida que me deseja um bom sono, e a quem desejo sucesso na nova carreira e a Silvia Regina Costa Lima argumentando que a insônia quando nos ataca costuma não dar tréguas, principalmente a nós poetas. E outros e mais outros dos quais me perdi, como Jucimar Estrela, Meneses que havia casado a filha e que portanto deve ter passado por muitas noites de insônia, Cyntia Talarico, Valéria Guerra e Vanderleis Maia, e finalmente o Sergio Lisboa. Ah, Sérgio, onde está você? Durante algum tempo fomos bons amigos e então você sumiu, após ter escrito aquele texto sobre a morte que deixou muitos de nós preocupados, o Rosso e eu principalmente e nunca mais tivemos notícias suas a não ser uma breve mensagem de que breve voltaria mas esse breve está mais longo que uma noite de insônia onde passamos ruminando notícias ruins.
 
Agora, para encerrar essa lembrança, deixo aqui os versos que escrevi há mais de dois anos em uma noite de insônia, quando eu nada mais consegui fazer além de contar carneirinhos e rabiscar essa simples canção que chamei de uma pequena oração ao Deus dos Insones.
 
 
 
 
 
Uma simples canção.


Sim, é noite e eu quero dormir.
Os ponteiros do relógio tão lentos!
Pensei que o tempo passaria logo
e eu pudesse refugiar-me nos sonhos.
Mas nem durmo nem o tempo passa,
enquanto a solidão se torna cada vez mais árida.
A luz da rua  silenciosa penetra pelas frestas mal abertas.
Permita-me,ao menos que eu feche os meus olhos
e veja as estrelas em um céu de carneirinhos.