Estranheza (2) – Um passeio por Amsterdã.
 
Quando conheci Olinda conheci também a casa onde viveu Maurício de Nassau e nessa época lembrei-me do sonho romântico de meus tempos de  ginasiana: eu imaginava como deveria ser tão melhor o Brasil colonizado pelos holandeses. Nessa época eu apenas gostava de História, não era ainda professora: não tinha que analisar a colonização portuguesa em relação as suas vantagens ou desvantagens. Eu era apenas uma menina romântica, ou uma vaquinha admirando a grama mais verdinha do pasto vizinho. Mas hoje eu agradeço de mãos postas a Portugal por ter nos colonizado porque eu juro, não daria conta de falar aquela língua nem nascendo e vivendo lá. E agora me vem o Miguel falando que seus filhos não dão conta de falar o português com fluência, só palavras soltas... E eu que pensava que nossa língua era tão fácil...

A Holanda sempre foi um dos países que mais me atraíram – sua luta contra o mar (uma das histórias inesquecíveis é a do menininho tampando com um dedo um orifício em um dique), os seus canais, os moinhos, as holandesas passeando com cestinhos de tulipas e calçando tamanquinhos. Quando soube que havia uma oportunidade para passar por lá uns três dias, agarrei com unhas e dentes.

E assim fomos até lá, Dudu e eu e mais trinta e oito pessoas tirando fora a Madalena nossa guia desde São Paulo, os motoristas e os guias locais.
 

Conhecemos quatro cidades: Haia, Amsterdã, Marken e Voledan.
Sobre Haia já falei e também sobre Amsterdã, as duas capitais do país. Mas sobre Amsterdã talvez eu precise falar muito mais. 
 
Amsterdã não é uma cidade grande, nos moldes das que conhecemos no Brasil. Em sua área Metropolitana deve ter cerca de dois milhões de habitantes.  Mas é uma cidade incrível, não só pelo que contei na crônica anterior, mas por muitos outros motivos.

O mercado das flores, por exemplo, é fantástico. Eu fiquei passeando por ali e imaginando o que se poderia fazer com tantas flores. .Acredito que com elas poderia se enfeitar as suas mais de mil pontes e seus cento e sessenta e cinco canais e ainda sobrariam flores. Ou então as bicicletas. E as casinhas coloridas bem juntinho uma das outras, penso até que uma segurando a outra porque a maioria delas é completamente torta: ora caem para a esquerda, ora caem para a direita, ora tombam para frente. Fico pensando que se uma fosse retirada do seu lugar pela mão de um deus brincalhão as outras cairiam em série, como um dominó. Passeando pelo canal fomos também observando os barcos ancorados nas margens, as casas flutuantes por sinal bem democráticas, já que umas eram até bem sofisticadas e outras completamente decadentes. E as grandes lapidações de diamantes. Fomos visitar uma, aliás, eu não, entrei só na porta e cai fora – não ia achar graça nenhuma em visitar um lugar onde se lapidam pedras, valendo milhões e banhadas pelo sangue e o suor dos pobres africanos que ainda vivem em regime de escravidão, dominados que são pela ganância de ditadores inescrupulosos.

Certamente que vou precisar voltar lá. É impossível imaginar ter ido a Amsterdã e não ter visitado nenhum de seus magníficos museus. Amo seus pintores, principalmente Van Gogh , Rembrandt e Vermeer. Mas dessa vez, como a parada era curta, preferi ver a vida na rua e não me arrependi. Além do mais, minha visita ao Louvre, acompanhada de quarenta pessoas me deixou completamente traumatizada. Foi uma correria do princípio ao fim e eu mal tive tempo de dar um adeusinho bem de longe para a Mona Lisa. 
 
Ainda preciso falar, mesmo que sumariamente sobre Marken e Voledan. Mas mesmo sumariamente vou precisar de mais espaço. Assim sendo acho que vou ter que estender essa narraativa sobre a minha jornada a Neederland por mais uma crônica. Mas antes de terminar, uma nota triste: a castanheira que confortou Anne Frank quando esta se escondia dos nazistas com a família  em um sótão em Amsterdã partiu-se como um pau de fósforos a cerca de um metro do solo. Era uma árvore bastante velha (150 anos) e doente (estava coberta de fungos) e caiu hoje, por causa dos fortes ventos e da chuva. Mas a boa notícia é que mudas dessa árvore já tinham sido transplantadas para um parque da cidade.

A foto aí em cima é da Reuters e espero que eles não descubram que a estou usando sem pedir permissão.

(série Viajando por aqui e ali/35)


observação: ontem, 23 de agosto, completei três anos publicando no Recanto das Letras.