OLFATO ELO DE LEMBRANÇA

Em minha terra não há riqueza. Tampouco o fantasma do desemprego. Há sim muita dignidade humana, de uma gente solidária que sabe dividir seus recursos embora limitados, com os menos favorecidos, que caminham confiantes de cabeça erguida de igual para igual sem preconceito e descriminação. Felizes por terem um teto para morar e o pão cada dia em suas mesas para se alimentarem. Aos primeiros sinais da aurora, principiam a intensa movimentação de uma população laboriosa e ordeira.

É com uma pontinha de orgulho, por ser filho da terra e fazer parte desta gente, que me encanto com as belezas naturais nela existentes.

Nesta manhã, que antecede o equinócio, ponto venal que dará inicio a primavera no próximo mês, foi sem duvida um dos momentos mais importantes que a vida me proporcionou,ao caminhar no derredor de nossa Vila. Deixando para trás às ultimas casas do perímetro urbano encontrei a paisagem modificada, diferente daquela costumeira. Bela como sempre, mas varrida pelo vento que afastou a densa fumaça. O frio é cortante, aliás, não muito comum nesta época. Esta mudança incomum contribui com a ilustração do cenário.

O intenso índigo do céu, profundamente límpido, recebeu o sorriso do sol recém-nascido, com seus raios contagiantes infiltrando no branco lençol enevoado pelo bocejo do rio Picão,formando densas plumas que se moviam levemente a menor tênue da gélida e suave brisa que as transportava.

Padrões do arco íris reluziam espelhados nas gotículas de orvalho depositadas sobre a curvatura dos filetes pontiaguda do capim, margeando as trilhas por onde eu caminhava; criando rica e imaginaria jóia como se fora confeccionada por uma diversidade dos mais finos e valiosos diamantes. Regressando de seus dormitórios, sobrevoavam esta maravilha bandos de garças exibindo sua plumagem branca banhadas pelo sol. E compondo a bela metáfora.

Retroagi no tempo através do meu olfato, elo com meu distante passado resgatando através dele o perfume das flores das laranjeiras prenunciando uma fertilidade, quando a terra revirada pelo arado de boi entrava no cio, para seu ciclo reprodutivo, exalando seu cheiro ao cair às primeiras chuvas e aguçava meu desejo de roceiro, para lançar nela, as sementes, que logo após iriam germinar, e em curto tempo atapetar esplendidamente de verde sua face tornando-a na mais bela obra de arte criada pela mão de Deus! Ao encerrar meu trajeto me senti de alma lavada, elevei meu pensamento ao criador e disse-, obrigado senhor por me permitir ser também parte da tua obra!

Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 23/08/2010
Reeditado em 22/08/2013
Código do texto: T2453919
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