Envelhecer.
Passei algum tempo dando-me o prazer de questionar a vida. De acusar o que vem chegando de responsável por minhas dúvidas e meus dissabores. Estive mais tempo me olhando no espelho e menos tempo cozinhando ilusões. Porque o fato é ferro e chega pra qualquer um o momento de perceber o que a idade lhe traz. Vai penetrando a alma como o reio perdido opera dilacerante o seu rosto. É hora de refazer o caminho, ludibriar a morte enquanto pode e resguardar o poder de ser feliz. Mas como? Simples. Não dar a ele (o tempo) toda a importância que ele reclama.
Envelhecer é uma zombaria diante de tudo a que nos propomos fazer e ainda não fizemos;a todas as paixões que listamos ter e ainda não tivemos; a todos os vestidos que planejamos usar e por absoluta falta de dinheiro e eventos não usamos; às poderosas viagens que elaboramos e que ainda não concluímos; a todas as músicas que pensamos dançar e que nos faltou coragem pra ensaiar.
Então eu me surpreendi com a ausência de sonhos. E é preciso sonhar! De repente é como se toda a minha história não tivesse acontecido. Como se ninguém houvesse reparado na cor dos meus olhos e um frêmito eloquente assumisse o lugar da minha paz. Por mais que a luz insistisse, não conseguia ver naquele reflexo a Macabéa de Clarice Linspector, Deus me livre, tamanho ser indecifrável. Pra falar a verdade não consigo me afeiçoar a personagens assim e sendo de comum acordo com o que escrevo reduzo a zero a chance de me comparar. Posso estar mais próxima de Lisa, bem composta por Schlink e seu "outro" guardado em segredo até sua morte, protegendo o sentimento sem se importar com o que viria. Ou por fim, posso desejar que o vento me leve à varanda cheia de folhas em que Flora Figueiredo emancipa seus poemas e conjunturas.
Sou isso. Sou aquilo. E desviei. Envelhecer faz isso, em breves minutos traçamos círculos e não se chega a lugar algum. A hora é de transformar, redirecionar e fingir não escutar(isso é fácil pra mim) os gritos do tempo!
Beijos a todos.