Espelhos
Espelhos...incomodam.
(também)
A primeira referência que lembro sobre o efeito do espelho sobre as pessoas foi no famoso conto de fadas da Branca de neve e os sete anões. O espelho incomodava a madrasta, que não conseguia obter as respostas que pra ela eram as certas. Causou sentimentos sofríveis na criatura: inveja, não saber lidar com perda, sentimento de revanche, entre outros. Até que ela fez, o que é de conhecimento até da mais distraída criancinha. Perseguiu a pobre da branca de neve e não sossegou enquanto não aplicou do veneno no alvo de todos seus piores sentimentos.
Algum tempo depois, eis que escuto a música do Caetano, onde se ouve: "é que Narciso acha feio o que não é espelho". Bom, nesse caso foi tratada a questão da imagem do espelho não somente como indicadora de defeitos e verdades...mas como aquela que é capaz de seduzir, hipnotizar. Como no caso de Narciso, que se perdeu dentro de si mesmo.
Ainda admitindo uma outra visão, sabemos que a forma automática, a forma quase que instintiva do ser humano reagir aos percalços da vida, é através do "efeito espelho". Se alguém sorri, você sorri junto. Se alguém esta triste, você se sente também. Se alguém esta com raiva e grita contigo...nos enraivescemos e gritamos de volta. Se somos ignorados, tendemos a ignorar inevitavelmente.
O curioso sobre a vida é que apesar de ser isso quase inerente a todos nós, ninguém parece estar pronto para entender. Perseguimos, investigamos o que não nos é revelado, ligamos, consumimos o tempo do outro, cobramos, deixamos o outro sem brecha e quase (eu disse, quase) sem escolha...Até o dia em que o outro resolve fazer isso de volta e achamos a maior injustiça! É...como eu digo. Espelhos incomodam! (também).
Certa vez ouvi falar também sobre o que é ser tão sublime, ao ponto de receber tudo isso e não reagir likewise (que o leitor me desculpe, mas as vezes preciso expressar em inglês mesmo). Dizem que maior demostração de maturidade e sabedoria, é conseguir não reagir assim como o outro agiu com você. Afinal, é uma luta contra o que é automático, e porque não dizer...inconsciente. Demonstra autocontrole, que o ego é está predominando e tals. (e please, não falo do ego como essa coisa que se infla com orgulho e presunção...mas o ego = eu).
Sempre que ouço uma das fontes de superego, a oração de São Francisco: "onde houver ódio, que eu leve o amor/ (...) onde houver discórdia que eu leve a união/ (...) onde houver trevas que eu leve a luz/ (...)fazei que eu procure mais (...) compreender que ser compreendido" lembro-me de tudo isso que falei acima. E vejo que é quase como querer remar contra a maré. E admiro quem consegue. E talvez consiga remar também. (May)be Tudo uma grande antítese.
Traduzindo, espelhos incomodam por não sabermos utilizá-los. Se não sabe lidar com eles que os quebre então! Ou que os deixem ser e aprenda a remar contra a maré.