Educação II

        Como já mencionado em outros textos, acredito que a responsabilidade por Educar é obrigação dos pais ou responsáveis pelas crianças, cabendo à escola, prover instrução, e alguma ação para sociabilizar estes tesouros vivos.
 
        Esta é uma interpretação que mesmo verdadeira ao meu ver, não se adere a realidade atual para uma enorme parte da população de pais e responsáveis.
 
        Como pais criados no abandono social e político, na indigência educacional, pais ignorantes de quase tudo, pais que sequer são capazes de amar seus filhos, podem ser responsáveis pela educação?
 
        A sociedade que criamos, e da qual somos integrantes, é cruel, e segrega seres humanos em seres que conhecem alguma dignidade humana, e seres de terceira categoria, que abandonados a própria sorte, sobrevivem como indigentes cidadãos.
 
        Educar é complexo, instruir é mais direto. Mas para ambos é necessário motivação. Urge a necessidade de acender nas crianças a chama da curiosidade, pois entendo ser ela a força motriz inicial do prazer de aprender. Devemos participar ativamente da vida destas crianças com exemplos de vida. Entendo ser primordial que removamos da educação qualquer limite institucional, religioso ou científico. A educação e a instrução devem ser integrais e multiculturais, multidisciplinares e universais.
 
        Ao meu pessoal ver, caberia ao estado intervir na mudança desta condição. Educar crianças, sem educar os pais e a comunidade, sem dar cidadania e dignidade mínima aos pais e a comunidade onde vivem estas crianças, é pura perda de tempo. Mantida esta situação de abandono humano, apenas uma minoria destas crianças será contaminada pelo vírus da curiosidade, que é o que motiva a educação integral.
 
        Pais ou responsáveis, que sendo seres humanos irresponsáveis ou que sejam fonte de maus exemplos não só para estas crianças, mas para quaisquer seres em formação, devem ser retirados de circulação e afastados do convívio destas crianças, por mais doloroso ou desumano que possa parecer esta decisão.
 
        Aqueles pais ou seres humanos que seriamente desejem se integrar numa mudança cultural devem ser, juntamente com seus filhos, educados.
 
        Mas cabe ao estado controlar o crescimento populacional, criar novos empregos, dar infra-estrutura física, social e humana decente. Saúde pública, escolas aparelhadas, professores motivados, segurança civil e eticamente consistentes, tratamento sanitário, ataque firme as ganges e aos grupos de terror, ataque forte aos criminosos do colarinho branco, estejam eles em que nível social ou político estiverem, como exemplo.
 
        Temos solução, mas passa por decisões dolorosas e complexas. A educação pura e simples, por melhor que sejam as escolas e os professores, não resolve, posto que estas crianças retornarão ao seu ambiente de convívio, e encontrarão desumanidades, tráfico, ausência do estado, maus exemplos, e continuarão vendo nas pessoas erradas, aqueles que os ajudam...
 
        Em uma mensagem recebida, constava a frase abaixo, que em uma leitura rápida achei-a magistral

         "“Todo mundo está 'pensando' em  deixar um planeta  melhor para nossos filhos ...
        Quando é que se 'pensará' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?"

 
       Reflete muito do que penso e escrevo sobre educação.... Entretanto, ela solta pode parecer ofensa a pais de família e responsáveis que sequer sabem o que é educação, e que vivendo de subempregos ou trabalhos que pagam salários vis, impossibilitam qualquer dignidade de vida.
 
        Desculpem me alongar.... Sou um dos muitos "irresponsáveis" que tentam dar importância a educação integral...
 
        Pessoalmente, acho que a educação deveria investir firme em conceitos, e somente depois na teoria decorrente. Foi assim que tentei preparar meus filhos. Pode ser que a pura sorte tenha me ajudado, mas tenho filhos ávidos por conhecimentos, e capazes de discutir conceitos, e resolver questões por dedução e inferência, quando não sabem a teoria exata...
 
        Apesar de ter um maior carinho pela área de exatas, acho que toda educação deve iniciar pela profunda análise de textos... Sem compreender textos, as crianças ficam totalmente limitadas em qualquer outra área... 
 
        Um pequeno exemplo, meus filhos jamais perderam tempo estudando tabuada, para desespero da mãe que é professora tradicional, eu quase proibia o estudo sistemático da tabuada... Entretanto eles conheciam, desde o início, todo conceito envolvido nas operações aritméticas (desde o início aprofundei o conhecimento conceitual envolvido, e procurava sempre atrelar a algo prático e lúdico), incluindo desde as básicas soma e subtração, passando pela multiplicação e divisão (desde cedo meus filhos entenderam o conceito de dividir como sendo um processo recursivo de subtração, ele sempre souberam fazer divisão por processo recursivo de subtração), alem do conceito fracionário e suas operações, entre outros... (Sempre entendi que a tabuada seria naturalmente aprendida no dia a dia)... Se uma multiplicação em especial eles não lembrassem imediatamente, bastaria se utilizar do conceito de multiplicação e por aproximação partir direto para a resposta, o tempo mínimo perdido neste processo, é superado pelo tempo ganho na interpretação conceitual do problema, que é (para mim) o foco final da educação....
 
        Longe de afirmar que sou o dono da verdade, repetiria tudo de novo caso novos filhos eu venha a ter... Ficaria imensamente feliz de ver meus filhos repetindo este padrão com meus netos....
 
        Tenho alguma idéia que muitos educadores devem discordar radicalmente de minha interpretação, mas se este texto permitir iniciar alguma discussão séria a respeito, já terá valido a pena...
 
        A meu favor tenho duas provas vivas, meus filhos. Sempre estudaram em escola pública, nunca fizeram cursinhos (a menos de inglês) e têm me mostrado que posso ter errado em muitas coisas, mas neste caso valeu a ousadia...


Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 17/08/2010
Reeditado em 17/08/2010
Código do texto: T2443476
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