Rueil: a minha nova paixão
Rueil: a minha nova paixão
O seu nome certo é Rueil Malmaison, mas toda a gente aqui a conhece apenas por Rueil, e se há paixões bem estranhas, a história da minha paixão por Rueil será uma delas.
Quando aqui vivi nesta cidade, passava por ela sem dar por ela, a minha paixão ia toda inteira para a grande cidade de Paris. Agora que desde ontem deixei de gostar de Paris, apaixonei-me hoje há poucos minutos por Rueil.
O que faz alguém gostar ou deixar de gostar de algo é, para mim, um mistério igual aos dos pastorinhos de Fátima, um sem interesse que nem na próxima encarnação me interessará saber, o que me interessa é apenas saber que adoro Rueil e que Rueil é a minha nova paixão e que de um dia para o outro deixei de gostar de Paris e passei a gostar de Rueil.
Capricho efémero? Amor maduro? Quero lá saber, se deixar de gostar deste novo amor, hei-de por certo de começar a gostar de um novo amor. Cidades é o que mais há por este mundo de Deus e do Diabo fora.
Antes, há muitos anos atrás, melhor dizendo outrora, passava por Rueil sem ver Rueil só tinha olhos para Paris. Olhar, olhava, mas olhava sem ver, que é a mesma coisa que dizer que não via coisa nenhuma: ou porque não podia ver ou porque simplesmente recusava ver. Há coisas destas na vida.
Não via Rueil tal qual era?
Rueil mudou e eu também mudei.
Rueil transformou-se numa cidade madura e eu passei a gostar de cidades maduras como Rueil.
Para mim, Rueil foi por muito tempo uma espécie de novelão pisado quase a morrer, em quem ninguém acreditava. Era uma brasa aparentemente extinta. E, no entanto, agora e aqui mesmo, estou sentado na mediateca de Rueil, Rueil tem tudo o que eu gosto numa cidade: é linda, discreta, serena, florida, limpa e calma.
Dispõe de mediateca, livraria, um mercado lindíssimo, esplanadas, cafés, restaurantes, jardins. Bem servida por transportes públicos, está suficientemente perto de Paris para quem queira desfrutar os benefícios de uma grande cidade e suficientemente distante para quem queira resguardar-se dos seus malefícios.
Eu, que sempre quis regressar a São Miguel enquanto aqui estive, agora que estou aqui de passagem, não me importaria nada trocar São Miguel por Rueil.
Paris morreu nos meus afectos, Rueil tomou o seu lugar enquanto o Diabo esfrega um olho sem que a minha alma sofresse as agruras do desamor.
São Miguel? É os meus filhos e os meus amigos e a família.
Será pouco? Não, é o suficiente para me fazer voltar.
Com gosto.
Mas, nunca se sabe, a vida dá tantos trambolhões.
Mário Moura
Rueil Malmaison, 6 de Julho de 2010