Ateliê da alma
Ateliê da alma
Os meus calejados, não mais que minh’alma tatuada por sulcos de amargas caminhadas, curvada e anciã, trôpega e hesitante, mas sempre tentando não sucumbir ante à chama,
que a impelia à frente galgar, o Alto escalar, o estreito ultrapassar.
Até que uma inacreditável hiper aceleração monitorou meu coração,inchando as artérias antes subnutridas do êxtase, qu’e finalmente deixou-se invadir e inflamar.
A alegria que nenhuma razão explicará jamais,
incrível beleza etérea me penetrava, algo verossímil,
algo provável, algo não merecido por um pecador que há tanto erra, permeando fadigas revoltantes, desassossegos excessivos.
Calei-me e permiti todo aquele silêncio sagrado me desvirginar.
Foi então que percebi o quanto não vivi, o quanto não respirei, o quanto não senti, o quanto não amei, o quanto não me comungara com a existência perfeita, até então.
Ah, eu que esperava tão crente, clamando com meus neurônios em avançado estado de exacerbado materialismo ...
Pela primeira vez senti meu ser plexo realmente solar, fluindo um eterno-presente. Outra vez nasci. Da ilusão ao verdadeiro, do inatingível ao abrangente, da suposição à certeza, da cegueira à Luz, do sonho teorizado à exultação suprema de quem se encanta ao vislumbrar o novo mundo – o real, o pleno, o absoluto.
Sim,tudo d’outrora eram sonhos bons e maus, mas sonhos, que resguardavam a verdadeira existência, cuja latência adormecida apenas dentro das noites claras sobrevivia, enquanto esperava desabrochar a rosa orvalhada na nova manhã.
Santos-SP-19/09/2006