...FIM DE SEMANA ENTRE DUAS CIDADES...

Ela toma Sol em plena tarde de inverno e aproveita a brisa que acaricia a pele. O copo d'água reflete o brilho que falta na vida e os centavos que restam se desvalorizam dia a dia na bolsa de valores. Tem funk no salão e flamengo no futebol e confesso que acho essa mistura um tédio. Tem político no palanque em meio a um apocalipse verborrágico enquanto todas as aves disparam pelo céu afora tentando se afastar de balas que perdem mundo afora. Se eu não tenho nada para fazer? Se eu não trabalho? Como assim? Será que o trabalho já faz assim tanta parte da vida de todo mundo que as férias não são mais lembradas? Há gaivotas e um Sol abóbora no desenho da criança que não consegue disputar com a moça da areia a atenção do seu pai. O desenho parece muito mais colorido que a paisagem ao fundo. A cerveja abastece o pensamento e apaga o pesadelo da noite anterior onde tudo era vermelho. Eu queria ser sonâmbulo e sair por aí a noite até me perder completamente. Ambulantes e suas muambas eletrônicas ao som de samba. O surfe transmitido pelas ondas do rádio no trânsito caótico da cidade que não dorme. O poente no parabrisa do carro, na direção dos morros. E a luz escorre da retina de quem não quer ver demais no escuro da noite. Restam as mulheres pelas calçadas, oferecendo as promessas mais profundas e infinitas até que a noite acabe.

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