O CRIME DO "AGRADINHO"
"Pois a calúnia vive por transmissão, alojada para sempre onde encontra terreno."(William Shakespeare)
O provável envolvimento de Bruno, goleiro do flamengo em crime bárbaro, fez com que os noticiários gastassem tempo exagerado na cobertura da matéria. Tudo isso, fez lembrar-me de um suposto crime ocorrido em minha cidade, precisamente no ano de 1967. Da mesma forma, guardada as devidas proporções, a cobertura da imprensa foi brutal e impiedosa. Naquela época, os jornais e rádio só falavam dos terríveis assassinatos ocorridos em série. Foram apontadas quatro mulheres de terem cruelmente envenenados seus maridos e companheiros, num total de 13 pessoas.
As pretensas vítimas receberam por parte das acusadas doces com veneno, contendo uma quantidade pequena de um pó altamente tóxico, de ação lenta. O consumo regular dessa substância contida nos alimentos levaria aos usuários, a definhar lentamente até a morte, levando anos para ocorrer o óbito. Todas essas pessoas eram humildes moradores da periferia da cidade. Na época, o assim chamado: crime do “agradinho” ganhou repercussão nacional, sendo noticiado nos principais meios de comunicação do país. A revista o Cruzeiro de circulação nacional, deu destaque para o caso, publicando vários artigos sobre o nefasto acontecimento.
O julgamento e a condenação das acusadas foram baseados em brigas por ciúmes, e outras desavenças familiares por parte dos envolvidos. E também, na exumação dos cadáveres que comprovou a presença de arsênico nos corpos. Uma substância facilmente encontrada no mercado, sendo usada para exterminar ratos. As rés foram consideradas culpadas, Portanto, condenadas e cumpriram suas penas.
Anos depois, o defensor público responsável pela defesa das acusadas do crime do “agradinho”. Em breve entrevista televisiva, mostrava-se inconformado com aquela sentença. Para ele, o único fato importante, que comprovaria os homicídios, seria a presença de substância venenosa nos corpos das vítimas. Essa prova foi em parte refutada, tendo em vista a análise da terra do cemitério local. Notou-se no exame laboratorial que a referida terra continha alto teor de arsênico, logo a presença do veneno nos cadáveres tinha outra explicação. O júri aparentemente foi induzido pela imprensa e pela pressão popular. Não se preocupou na época em verificar a concentração do referido veneno na terra. Logo, A condução do caso foi tendenciosa para o referido causídico.
Aquelas pobres mulheres cumpriram suas penas integralmente por um crime cujas provas não foram consistentes. Suas vidas foram destruídas e também de seus familiares. Eram tempos de ditadura militar. Imprensa livre era apenas para malhar o cidadão comum. Enquanto a miséria reinante, a péssima educação e principalmente, a total falta de liberdade eram assuntos inatacáveis por ela. Passados muitos anos, percebe-se que o problema persiste em relação à justiça comum, pois a mídia poderosa continua tomando partido, tudo de acordo com seus interesses comerciais.