CRÔNICA PARA UM DOMINGO SEM SOL
Por CArlos Sena
Cada domingo é como cada pessoa: único. Nessa singularidade um aspecto nos parece comum: o bucolismo. Por mais que as coisas não andem bem na política nem nas nossas vidas, o domingo não altera seu formato. Hoje, por exemplo, a praia de Boa Viagem em Recife onde moro, ignora profundamente a ausência do sol. O tempo fechou num misto de garoa, vento frio e alternadas torrentes de chuva. Incólume, o domingo se impõe enquanto sentimento; enquanto referencial de descanso, de almoço com a família, de ficar debaixo das cobertas vendo um filme e comendo pipocas, ou apenas curtindo a pessoa amada. Domingo nos remete a um poema de amor feito por quem nunca amou, mas teve essa legitima ilusão. Afinal, dentre os ingredientes que embalam a vida, a ILUSÃO nos veste no rigor do sonho acalentador. Sonho e ilusão são a conjugação perfeita para que não nos deleitemos com receitas próprias de felicidade a nós impostas. Quem sabe sonhar sabe fazer da ilusão a ponte que conduz a um viver doce, mesmo diante das amarguras. Quem sabe sonhar certamente sabe rezar; certamente descobre que só a oração e seu poder de religação com Deus nos torna forte.
Domingo tem uma relação de simplicidade com a vida. Poucas coisas tornam-se grandes em significados, talvez porque a liturgia domingueira já nos deixa felizes naturalmente. Uma boa música, uma caprichada lasanha, um filme "água com açúcar", um passeio no calçadão em dias de sol ou mesmo de chuva, um bom DVD (estou vendo Emoções Sertanejas, de Roberto Carlos), ler um bom livro, visitar amigos, namorar, ir à missa ou ao culto, etc., fazem do nosso domingo uma celebração.
Cada domingo é como cada pessoa: único. Nem mesmo a violência da cidade grande, nem a falta de compostura dos nossos políticos, nem o falso moralismo estabelecido em quase todas as camadas sociais, conseguem tirar do domingo a sua liturgia. Talvez seja interessante improvisar "domingos" em qualquer dia da semana. Com certeza nosso "interior" vai virar uma festa!
Carlos sena, 24 de julho de 2010.