Poesia, poeta, língua e pinga

Luiz Fernando Veríssimo sustenta que a única língua verdadeiramente universal é o espirro.

Mia Couto é um escritor moçambicano muito considerado no mundo de língua portuguesa. Escreve: “Estamos criando uma língua apta para o futuro, veloz como a palmeira, que dança todas as brisas sem deslocar seu chão. Língua artesanal, plástica, fugidia a gramáticas”.

"A poesia é feita de pequeninos nadas" diz Manuel Bandeira

Em outubro de 1981, Cora Coralina escreveu:

Não te deixes destruir...

Ajuntando novas pedras

e construindo novos poemas.

Recria tua vida, sempre, sempre.

Remove pedras e planta roseiras e faz doces.

Recomeça.

Faz de tua vida mesquinha

um poema.

E viverás no coração dos jovens

e na memória das gerações que hão de vir.

Esta fonte é para uso de todos os sedentos.

Toma a tua parte.

Vem a estas páginas

e não entraves seu uso

aos que têm sede.

Eliel José Francisco me disse, depois de emborcar uma lapada de Pitu: “Minha poesia ainda vive sob o Estatuto de menoridade cultural”.

Bob Marley cantava com a cuca fervendo de “erva cidreira”:

" Somos jovens, belos, bêbados e Karetas...

Sempre em bandos e as vezes em dois...

Curtindo grandes amores, chapados, pirados...

Pelados, olhando as estrelas a espera de carinho e a procura

de um futuro que não chega. "

Maurício Pereira é um poeta desconhecido que mora em um lugar fora do mapa. No recanto de um bar anônimo, tendo como ouvinte um bebinho sonolento, escreveu na toalha da mesa:

Sorte tem os bêbados,

pois conseguem dormir.

Sorte tem os Loucos,

pois são livres para agir.

Sorte tem os idiotas,

pois conseguem amar e sorrir.

Gostaria de fugir da realidade em que vivo

e entrar em um copo de whisky,

Para ser Louco e idiota

Assim, faria o que quisesse

Sorriria, dormiria e teria a capacidade de amar.

Ah! como eu os invejo!

Roberto Campos é um economista direitista e grande defensor da “liberdade” de mercado. Já saiu da área. Depois de tomar seis uísques 12 anos, filosofou: “Brasil e Argentina parecem dois bêbados cambaleantes a cabecear nos postes. Só que, enquanto a Argentina parece estar a caminho da economia de mercado, o Brasil parece estar de volta ao bar.”

“Estou fora de combate, vou terminar meu enfarte”, disse Marcelo Cordeiro, tomando a saideira e saindo para o hospital, cuidar de um pequeno entupimento nas veias.

“Sempre me perguntavam porque eu gosto de poesia. Talvez eu soubesse a resposta, mas nunca soube responder. Hoje, se vierem me perguntar porque eu gosto de poesia, já sei responder: porque ela me tocou no momento mas inesperado e desimportante da minha vida. Ela me tocou suave e breve como essas palavras que ao findar vão dar em nada”. (Tiago, um jovem ouvinte de poesia de bar).

Do velho compadre Joacir Avelino: “a poesia anda em baixa devido ao grande número de aventureiros que se metem a ser um "Drummond", mas quando surge um Eliel junto com Fábio Mozart, não me deixa nenhuma dúvida de que a poesia não morreu, porque ainda existem pessoas com essa leveza no trato com as palavras. Os versos de Eliel merecem ser publicados e divulgados. Avante Itabaiana!”

Como “expulsadeira”, esse poema do bêbado, anônimo:

Prá curar sua paixão, beba pinga com limão;

prá curar sua amargura, beba pinga sem mistura;

contra dor de cotovelo, beba cachaça com gelo;

contra falta de carinho: cachaça, cerveja e vinho!

Se brigar com a namorada, beba pinga misturada;

se brigar com a mulher, beba pinga na colher;

quem dá amor e não recebe, mistura todas e bebe;

e se alguém lhe faz sofrer, beba para esquecer!!!

Prá curar seu sofrimento, beba pinga com fermento;

prá esquecer um falso amor, beba pinga com licor;

prá acalmar seu coração, beba até cair no chão;

e se a vida não tem graça, encha a cara de cachaça!!!

Pra você ganhar no bicho, beba uma no capricho;

pra ganhar na loteria, beba pinga na bacia;

pra viver sempre feliz, beba pinga com raiz;

e se você não tem sorte… beba pinga até a morte!!!

Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 21/07/2010
Código do texto: T2391607