O que está no meio do caminho
“No meio do caminho tinha um teclado, tinha um teclado no meio do caminho”, entre tantas coisas que tentam impedir minhas “escrevelâncias”, o teclado se tornou mais uma. Teclas duras como o aço, retiram minha agilidade. Espaço agarrado, teclado manco, a letra “a” afundada, tudo para dificultar minha escrita... primeiro foi o “insert”, no meu desespero de acertar o “back space” com o dedo mínimo da mão direita, errava sempre a maldita tecla e acertava-o, fazendo assim com que eu estragasse a “empurrância” das letras ao corrigir algo no meio das palavras. Em seguida veio o amaldiçoado “F12”, que também ao tentar usar o mesmo “back space” apertava-o causando um salvamento indesejado no meio de uma criação. Bem de fato, agora pensando, talvez devesse ter arrancado o meu mindinho impreciso e não as coitadas das teclas. Bom, estes foram incômodos sanados, com as teclas arrancadas, acertar o “back space” ficou mais fácil. Estou pensando seriamente em retirar também a tecla “]”, além do “enter” esta é a única que ainda me atrapalha. Bom, mas vejam só, o coitadinho do teclado já apanhou tanto. No meio dos meus ataques de fúria, ele tomou tanta pancada e ainda sobreviveu, tinha é que aposentá-lo com menções honrosas. Minha última tristeza com ele, tirando o fato de estar sempre manco por causa da perninha de apoio que, subitamente e misteriosamente, desapareceu depois de um soco, é a coitadinha da letra “a”. Ah, pobrezinha... me faz uma falta! Devem estar se perguntando: como é que ele está digitando o “a”? Simples, desenvolvi uma força adicional em meu mínimo esquerdo, uma força adequada, nem muito forte nem muito fraca, o suficiente para que a letra saia sem dificuldades e não dispare, a ponto de ter que ser levantada com uma alavanca.
Assim fosse só isso... “no meio do caminho tinha um MSN, tinha um MSN no meio do caminho”, o que dizer sobre isso? Gosto de falar com muitas das pessoas que eu converso por lá, mas quando eu sismo de abrir o dito cujo antes de ter já escrito alguma coisa, aí já viu, né? Nossa, é de uma lentidão que dá até medo. Por exemplo: este texto mesmo é a prova concreta de minha ineficiência. Estou a escrevê-lo desde as dezenove horas e olhando agora para o relógio, vejo marcar trinta pra meia noite. Mas a injustiça não seja feita...
“No meio do caminho tinha um telefone, tinha um telefone no meio do caminho”, e assim se vai a lista de coisas no meio do caminho. São tantas e das mais variadas... um celular, um Orkut, alguns cães, alguns gatos, um livro, a campainha, a fome, a preguiça, outro livro, um seriado, um filme, o tédio, a distração, a inconstância, e todos os mais variados eticeteras. Assim sou eu, um ser cheio de coisas no caminho. As coisas vão aparecendo e eu as vou contornando. O glúteo já “aquadradado” pelas horas, o calor a incomodar, as mãos a doer, mas tudo não passa de um equívoco, o engano de achar que as coisas que estão no meu caminho, são intransponíveis. Nada pode me deter, nem o “no meio do caminho tinha um eu, tinha um eu no meio do caminho...”