RETRIBUINDO A NATUREZA
Hoje pela manhã, como sempre faço de dois em dois dias acompanhado por minha esposa, fui ao meu cantinho na roça. Desta vez como ela não pode acompanhar-me foi só.
Ao encontro de alguns clientes, clientes estes que me dão despesas, ao contrario dos outros, que dão suporte a minha profissão. São os ecológicos, aliás, mais do que clientes são verdadeiro irmãos por parte de nossa mãe, “a natureza” também me considero um filho do mato. Quase meio século atrás ao chegar de mãos vazias, eu corria atrás deles com uma arma em busca de complementação para nossa alimentação, uma alternativa na vida exigida pela necessidade. Os pássaros e pequenos animais fugiam apavorados na mira de minha espingarda, e como bom caçador, eu os abatia voando ou correndo atrás deles. Atualmente tudo mudou, são eles vindo ao meu encontro, em busca de alimentação uma retribuição que faço com grande prazer. As gralhas que tantas vezes me serviu como prato do dia, hoje é um terror comendo todos os ovos de nossas galinhas, bastam ouvir o grito de uma galinha, lá vão elas fazer a coleta. A pouco um amigo sugeriu-me colocar veneno para elas. Respondi a ele, acho mais viável, eu, comprar mais ovos e distribuir com elas. Se no passado elas me alimentaram agora é mais do que justo retribuí-las.
Sozinho, para irrigar todas as plantas, jardim e arvores de um bosque em formação, gastei exatas duas horas, que passaram tão rápidas que nem notei. Apreciando a diversidade de pássaros que gorjeavam na mais bela e ecológica festa, depois que se fartaram nos comedouros abastecidos por mim, meu primeiro procedimento ao chegar. Dei pela falta das siriemas que sempre me visitam na parte da tarde, desta vez com a mudança do horário, elas não vieram, imaginei. Terminada minha tarefa, qual não foi à surpresa, ao sair lembrei que havia esquecido a cesta de frutas no terreiro da cozinha. Ao voltar para apanhá-la, lá estavam três delas, tristinhas por falta do milho que as galinhas já tinham devorado. Já estavam saindo, mas ao me verem, pararam. Eu chamei como de costume: “thuca, thuca!” Assim as chamo, quando viram a sacola milho em minha mão vieram para meu lado, embora desconfiadas, mas aproximaram a menos de quatro metros; joguei o milho a elas, apanhei a cesta com as frutas e sai imaginado, como tudo mudou... HÁ menos de meio século eu as perseguia em seus pousos, nas noites de luar. Elas fugiam apavoradas, agora são elas que me procuram... Como é bela a harmonia homem e natureza.