LÁGRIMAS MASCULINAS

Por que chorou Galvão Bueno? Por que chorou Iker Casillas? Por motivos bem diferentes, é óbvio. Algo em comum, entretanto, há nessas lágrimas masculinas: o amor ao futebol, em primeiro lugar, e o amor à Pátria.

Galvão não é jogador, juiz, nem ao menos gandula. Olha o campo de longe. A função dele é outra. É comentar, falar, e isto ele faz. Penso que faz bem, minha opinião é apenas a de uma observadora da comunicação e do futebol. Entretanto, diria que ele peca por otimismo exagerado, é um romântico. Ele cria o sonho e nele joga todas as palavras passando a impressão de que otimismo e romantismo ajudam a definir partidas de futebol e até uma Copa do Mundo.

Então, veio a dura realidade com a qual o comentarista se bateu, finalmente, a de ver a taça nas mãos espanholas. As bandeiras da Plaza de Cibeles avermelharam em seus olhos. Foi aí que me pareceu acordar de vez. Viu o seu sonho e da nação brasileira naufragar. A derrota da seleção que representa o Brasil se avistava ao longe, logo antes da metade do certame, mas como pouco entendo de futebol e nem quero atrair a ira dos torcedores, melhor deixar este assunto para dentro de casa.

Haveria alguma lógica no fato de uma seleção de futebol qualquer ser seguidamente campeã? Que gosto teria uma competição já se sabendo quem iria ser o vencedor? Duas perguntas fáceis de responder.

As diversas seleções futebolísticas brasileiras fizeram uma bela história. Ainda estão acesos os nomes dos craques e as jogadas que acompanhávamos, uns pela TV e, nos estádios, outros. Fomos, sim, um país muito feliz com o sucesso, a garra, a maestria e a arte de Pelé, Garrincha, Tostão, Rivelino, Carlos Alberto, Zico e tantos outros.

Quando começaram a chamar os jogadores pelo nome próprio na forma do diminutivo, o desempenho foi diminuindo junto. Quando os jogadores começaram a trocar as bolas misturando a responsabilidade com a súbita riqueza, as festas, a paparicação. Quando apontou no horizonte verde e amarelo o esnobismo de treinadores e técnicos, a vaca foi mesmo para o brejo e até agora está atolada.

Mas, voltando às lágrimas, motivos não faltaram para Casillas chorar. É a primeira vez que seu país ganha a Copa do Mundo e ele fez um grande trabalho, brilhou defendendo a rede onde esteve colocado. Isto é mais que suficiente. Um homem de fisionomia bela com um toque de desprendimento e uma pitada de humildade. Fica mais bonito ainda. Aquele salto de hoje foi um verdadeiro passo de balé clássico de fazer inveja a Nureyev, se vivo estivesse. E o beijo que deu na esposa, frente às câmeras espanholas, demonstrou a sua alma cândida.

O jogo foi difícil e dividido, forte dos dois lados. Uma partida que parou a Espanha e deve ter também feito parar a Laranja. Saíram as duas equipes igualmente vencedoras, dignas, exceto pela violência de certas jogadas. A nação ROJA merece o título, justiça seja feita. Reconheçamos e treinemos a desportividade.

É hora de fazer mais duas perguntas, talvez para Galvão Bueno: E se a final fosse Brasil x Holanda? E se a final fosse Brasil x Espanha?

Evidente está que o Brasil precisa reaprender o esporte que tanto ama.