O Crítico
Depois de muito tempo postando, por fim, eis que decido averiguar, na verdade apenas ler, em voz alta, um dos meus textos. Confesso não saber o porquê de algumas pessoas elogiarem tanto o que escrevo. Alguns trechos distintos em muito me agradaram, mas são apenas algumas poucas frases isoladas. Contemplei minha ignorância e minha ignomínia. Bestifiquei-me com os escândalos de minhas palavras, assim sendo, odiei-me. Não estou pedindo bajulação, estou apenas retratando o que de fato vi: muita incoerência e muita desordem. Para tanto, inclusive, neste texto estou computando cada letra para evitar mais uma obra descabida. Singularidades à parte, a quase totalidade destas linhas, mesmo que pensadas e calculadas, provavelmente escandalizar-me-ão de forma irreversível. Posso caprichar por quanto queira em meus escritos, mas o que sou além de um nada a mais? Quantas são as obras de colossais escritores e inomináveis poetas que dão banho em meus singelos papéis? Por que atrevo-me a escrevinhar sem ao menos lê-los todos? Arrisco-me nestes desenhos gramáticos sem, por certo, saber como de fato registrá-los. Piedade tenham de mim, mas não clamem minhas lágrimas. Sou apenas um escrevedor, lembrem-se pois.
Não quero ser um chulo artista de linhas esvoaçantes, nem tão pouco um escritor medíocre. Meu intento é e sempre foi o de produzir belas palavras, que unidas a outras tantas, darão vida a minha própria existência. Capricharei em meus ideais, vasculharei até as mais tenras fontes em busca do devido aperfeiçoamento. Prometo centrar-me mais em prol de boas prosas, cuidar melhor dos caracteres que constituirão meus, talvez acertados, pareceres. Lerei infindávelmente cada obra de cada autor necessário à minha formação. Absorverei cada estilo literário transmutando-os em um estilo próprio. Não medirei esforços para surpreender a mim mesmo com melhores e mais formosas composições. A labuta escancara-se arduamente, mesmo que assim o seja não temerei os desígnios proféticos e desejosos de meu ser. Enfrentarei minha quimera por mais desgastante que se apresente. Maquino preencher-me de leituras, quando não neste afazer, prontamente estarei a produzir.
Sou o meu maior algoz, sei portanto da minha não profissionalidade. Lamento e redimo-me para com os que me lêem. Não há nada pior do que minhas próprias críticas. Tropeço em minhas construções mas quero mais do que a simples perfeição. Cobiço o diferencial que estará não somente em minhas criações, mas também em minhas imperfeições. Almejo assim sulcar o meu nome entre os grandes, sem contudo, perder para sempre a humildade que me mantêm sendo o que já sou: escrevedor.