A CERVEJA, O VINHO E O SONHO

Por Carlos Sena


 

Diante de mim uma folha de papel em branco. Sinto que me desafia, talvez querendo se entregar aos prazeres das letras, das palavras, do pensamento construído.

Escrever é o que me resta diante deste desafio silencioso, desta página em branco. Poderia me repetir falando de Bruno e de Eliza, mas seria cansativo, diante da barbaridade dos acontecimentos. Poderia compor um texto vibrante sobre futebol. Mas, nossa seleção “amarelou” e o hexa campeonato mundial não pôde ser nosso. Poderia, sem nenhuma hesitação, falar da política, haja vista as candidaturas a Presidência da República, Governadores estaduais, deputados e senadores estarem em efervescência. Não me atrevo. As enchentes que quase acabam cidades no Nordeste, se me configuram como umas provas cabais de quão os políticos não cuidam das pessoas, principalmente as mais carentes.

Diante de mim, a lauda continua alva – tênue a espera de mim como uma donzela ansiosa pela lua de mel. Hoje é sábado, noite sem lua nem estrelas, mas é sábado com todos os mistérios, com todas as expectativas de aconteceres. Lá fora, entremeando a negra solidão, leve garoa intermitente nos desperta para as aventuras do amor. Penso num barzinho aberto, mas a noite se condena por si só, diante dos notívagos solitários que nestas noitadas entregam a sorte. Nesse entorno de revertério, melhor soltar as asas a esmo, talvez num cantinho Cult, ou mesmo "under ground"em que todas as fragilidades juntas se fortaleçam em função de um amor “inventado”.

Um bom vinho tinto seco. Que boa idéia! Só que o ritual do vinho se completa em companhia de alguém de quem gostamos. Beber vinho é diferente de beber cerveja. A espuma da cerveja nos brinda na efervescência do sonho acordado, na esperança de que no dia seguinte, "entre espumas" a gente trague a dor e engula a labuta. De fato, não se bebe vinho. Bebe-se cerveja, porque vinho a gente toma. 

Alguém me bate a porta. É um amigo que vem nos buscar para vadiar. Ele não gosta de vinho, eu sim. Eu não gosto de cerveja, ele sim. Entre os meu "sins" e os dele, vamos pra noite desvendar nossos senões.