Uma doce Companhia numa Caminhada numa tarde de Domingo
Não foi uma caminhada sobre as ondas do mar
Nem sobre as nuvens no céu
Os meus pensamentos não estavam no passado
E nem no futuro
Era um simples caminhar no presente
Pelas calçadas de pedras
Numa tarde de domingo
Sol de inverno
Jogando as suas luzes num vôo rasante
Por dentre as sombras gélidas dos prédios inertes
O sol era isto
Um raio dourado cheio de vida
Numa selva de pedra
E a minha vida se renovava a cada passada
Por uma calçada de pedras
Aqui e acolá
Um muro caído, uma cerca mal cuidada, vidraças quebradas
Aqui e acolá
Uma casa bem conservada, pintura fresca e limpeza
Chamavam a atenção
Espelhos dos cuidados do homem com a beleza da sua vida
Retratos arranhados do homem com o seu desprezo pela vida
Em cada jardim florido, em cada casa abandonada à sua sorte
Em algumas havia
Uma trilha entre os matos até a porta da casa
Em outras havia
Uma passarela cercada de flores vivas
Imaginei cada morador desfilando em seu recanto
Uns vendo a vida se renovando em cores
Uns vendo a mesmice do mato dominando a sua vida
Para qualquer lugar que olhamos
Temos os vestígios de uma civilização ainda aprendiz da felicidade
Em algumas casas por sobre o muro observava as crianças brincando,
Em outra, dois cachorros dividindo o mesmo saco de lixo
A caminhada prossegue
Por sobre uma calçada que em algumas partes
Trazem a lajota com detalhes para os cegos
Sinal da consciência do homem para consigo mesmo
Alguns semáforos depois
A caminhada continua por uma avenida sinuosa
Com movimentado trânsito de carros e motos
Motos que já governam as cidades
Ou pelo menos já provocam síndromes de pânico
Em muitos motoristas,batidas, espelhos quebrados, fugas cinematográficas
Enfim, é uma tarde de domingo.
E caminhar é preciso. Reduzir as gorduras que no inverno nos agradam.
Caminhar além da esquina, além do vizinho, além do perímetro urbano
E lá estamos nós subindo o morro que nos leva até a beira do mar
Uma calçada larga, árvores, mata nativa, pássaros, borboletas,
Aroeiras, goiabeiras, pinheiros, jacatirões.
Sob os nossos pés a calçada pavimentada, ao lado o asfalto
Subitamente numa descida sombreada e fria
Um raio de sol corta todo o cenário e como um holofote, fixa a sua luz
Sobre uma árvore no meio da mata
Somente aquela árvore ficará por segundos iluminada
E numa seqüência de passos calçada abaixo
Abre-se por entre a copa das árvores na descida
Um mar, o mar, um azul intenso, vivo, hipnotizante
Que me congela me deixa perplexo, estático
Paramos sobre a calçada, e ficamos por longos minutos observando
O cenário
Como Deus, eu pergunto, podemos sentir-nos em certos momentos
Parte de tudo, parte do mundo dos homens e do mundo da natureza
Ao meu lado, abaixo da calçada
Os carros passam lentamente, as motos rapidamente
Ciclistas arfantes, pedestres falantes
O céu azul, o mar azul, as matas verdes, o asfalto
Os carros de tons variados, a motos coloridas
Tudo num repente combina se torna um só cenário
Será uma ilusão ótica?
Um pensamento confuso?
Será o meu coração leve, os meus pensamentos livres?
A calçada continuava pela beira-mar e retornava pela beira da areia,
Pela beira do rio e pela beira dos prédios até a minha kitinete...
Quando chegamos à Kitinete, eu cansado e feliz, falei... Deus que bom que me convidasse para esta caminhada para apreciar a tua obra e a nossa... É difícil, mas aos poucos vamos mudando o nosso mundo para melhor... Começamos fazendo uma calçada para todos...
Ah! Senhor! ...como é bom estar contigo nos bons momentos.
Até quando não temos o que fazer, imagina só quando te chamarmos porque tudo está perdido e não há mais nada que se possa fazer.