AS MÃOS DE ELIZA NÃO AFAGAM MAIS.
Por Carlos Sena


 
A vida imita a arte que encena a vida. ELIZA está morta de uma forma cruel e sem precedentes. Seu crime? Querer criar seu filho com um pai famoso, jogador do Flamengo. ELIZA era bonita e modelo e se enquadrava no que se chama por aí de "Maria chuteira" - uma versão moderna da "Maria Gasolina" dos tempos em que o automóvel era instrumento de conquista amorosa.
A história de ELIZA não é trilhada na lógica da família organizada. Filha de pais separados, sua mãe de há muito não se comunicava com ela; seu pai, embora sendo quem lhe prestasse assistência, está envolvido com assédio sexual a menores.
A vida de "Maria chuteira", pelo que se noticia não foi das piores pra ela. Até com Cristiano Ronaldo já teria fotografado, mas quis a vida que ela caísse nas raias de um marginal chamado BRUNO - ídolo da maior torcida do Brasil, O Flamengo do Rio. Por inexperiência ou esperteza (não importa), envolve-se com Bruno - rapaz humilde que não soube aproveitar o que a vida lhe deu, talvez dentro da lógica de que "quem nasce pra tostão nunca será cem reais". Não bastasse isto, o jogador famoso estava envolvido com uma corja de marginais que o ajudaram ao mais torpe crime que a impressa tem noticiado no rol de tantas mulheres mortas no Brasil. ELIZA, envolvida com essa periculosa quadrilha, não abortou o filho de Bruno e isto talvez tenha sido o pivô do SEU assassinato.
Rico, cheio de casas de luxo, sítios, carros importados, afeto a orgias com prostitutas, talvez tenha imaginado que, matando sua amante, seria mais uma no rol das dez mulheres que são assassinadas por dia no país. Apostou na impunidade e se deu mal. Nossa polícia mudou muito e quando quer desvenda segredos como os do assassinato de Rafaela Nardoni e a delegada, em São Paulo e Jennifer, no Recife.
A camarilha está presa. ELIZA está morta e seu filho é objeto de disputa judicial pra ver com quem ficará. A mãe de ELIZA está lutando, mas há quem diga que está de "olho" na pensão que a justiça determinará.
Da Glória à Lama, seria um bom título para esta novela da vida real em que o goleiro se meteu. Certamente ele não vai sentir o baque da prisão nos primeiros dias. Pouco inteligente pra vida, com certeza vai apostar no dinheiro que tem. Mas de onde só se tira não cresce e, um dia, sem salário, pode minguar tudo, inclusive os amigos de ocasião. Talvez na prisão ele sinta o gosto amargo de matar mulher como se mata cachorro sarnento. Sem mordomias (é o que se espera), vai "fazer amor no grosso", pois o "varejo" acabou. Virou pesadelo, contrariando sua frieza.
O mundo da cadeia é cão. Principalmente, quando o "rei está morto". Não nos assustemos se um dia ele for pego solfejando, por entre as grades: "não sou mais flamengo e tenho um Nego chamado Tereza" - isto se algum “traveco” a isto se prestar. Mas não faltará "sapato velho pra pé doente", enquanto pra ELIZA não devem faltar preces, orações fervorosas para que, no outro lado da eternidade, arrume uma forma de não permitir outras mulheres cair em armadilhas semelhantes.
O tempo é o senhor que a tudo acalma, atenua e às vezes faz esquecer fatos que nunca se pensa serão esquecidos. ELIZA está morta. Bruno filho está vivo. Um belo dia o Fantástico vai conseguir uma entrevista exclusiva com o goleiro preso. Ele vai chorar, vai passar a imagem de bom moço. Em seguida, após o julgamento, a pena será atenuada e ele voltará como Guilherme Pádua voltou, provavelmente, no papel de Evangélico...
O que há de prático nisto? - Ninguém vai trazer ELIZA de volta! Mulheres não vão deixar de serem assassinadas, pelo menos na quantidade que se divulga. Mas elas poderão deixar de ser tão passionais; deixar de confiar em homem que não lhes respeita, nem lhes ama. O amor não mata, nem morre! Amar é vida do princípio ao fim. Esse fim pode ser da vida por ordem de Deus, ou da relação por ordem do destino. As mulheres sabem que não são sexo frágil e isto é muito alvissareiro. O que facilita muito a conduta machista é o equívoco que o "Amor Eterno" provoca. De certa forma, há mulheres que foram criadas para esse papel, mas é tempo de repensar, porque poderá ser tarde demais, como o foi para ELIZA. Amar é construção a dois. Se só um faz isto, a outra parte fica vulnerável e se torna presa fácil de uso financeiro, afetivo e social, por parte dos machos.
A mão de ELIZA foi jogada aos cães. Como dizia Augusto dos Anjos, "a mão que afaga é a mesma que apedreja, a boca que escarra é a mesma que beija"... O corpo que aquece é o mesmo que se esquarteja, digo eu, do alto da minha singela veia poética.
Que ELIZA descanse em paz. A paz que não pode alcançar para criar seu filho com o afago das mãos e com o calor do seu corpo. Hoje, mãos e corpo devem estar “concretados” em algum local deserto, tal qual sua vida - deserta de homens que soubessem os meandros do amor.
 
A Net já deve estar postando fotos pornográficas de ELIZA. Com certeza querem diminuir a culpa dos assassinos frios, como se puta, gay, travesti, mulher, negro, etc., não fosse gente.
Infelizmente as mulheres ainda estão vulneráveis a isto, talvez pela predisposição de uma boa parte delas que gosta de exercer o papel de frágil, de "cama e mesa". Isto a gente pode perceber na relação dos
próprios homens: eles poderiam ser considerados "prostitutos" - mas, são protegidos por uma cultura em que o machismo prepondera. No popular:  "em homem não pega nada"!
Bruno e sua corja pensavam que vida tem sexo; provavelmente pelo fato de que ELIZA era "Maria Chuteira", prostituta, etc.  Esqueceram que quando se mata uma prostituta, etc., mata-se GENTE. Esqueceram que a impunidade às vezes sai às avessas e que o feitiço também vira contra o feiticeiro.



PS.

Fico pensando: será que algum raio de sol perderá seu tempo adentrando numa cela de cadeia em que BRUNO e sua quadrilha estejam presos?