Distração... às vezes...distrai!

Querido leitor, acho que eu e você gostamos de viajar!

Não!, não! Não estou me referindo às viagens abstratas, aquelas de ida e volta, em que a emoção faz descerem pela face lágrimas sentidas, ao relembrarmos um grande momento triste – que faz enchente em nosso coração... como se coração fosse morador – como eu! no bairro Nova Santa Paula... com as eternas... enchentes todas, no Kartódromo de São Carlos!! Ou... aquela viagem que faz nosso peito quase explodir em movimento tipo tambor... quando revive intensos momentos de puro amor...!

Não! Hoje falo de viagens concretas, nada de sonhos. Dessas que a gente vai de carro - se tiver um – ou de ônibus – se tiver dinheiro – que as passagens estão “pra hora da morte”.

Bem, no caso a que me refiro, tinha já eu a passagem, o que, hoje, significa um inequívoco sinal de riqueza. Sentindo-me rica, embora minhas preferências fossem pelas viagens transcontinentais, ia eu indo mesmo só de Santos a São Paulo.

Às seis da manhã, no domingo, “apeiei”na rodoviária antiga de São Paulo. Bem antiga e colorida. Eu gostava dela.

Nessa hora, os humanos costumam ter fome.Sou aspirante à bruxa e... bruxa que é macha, tem que ter seis verrugas no nariz! Eu só tenho duas, mas chegarei lá! Infelizmente, continuo humana e... com fome!

Vou à lanchonete.

Apenas duas moças: uma do lado de dentro do balcão, é aquela que vende; outra do lado de fora do balcão – é aquela que compra.

- A senhorita teria aí polenta com frango, pergunto.

- Às seis da manhã?! Não, não tenho.

- E... teria uma sobra de feijoada de ontem, sábado?

- Feijoada às seis da manhã?!

- Me diga: o que é que se come, aqui na capital, de manhã, é... alpiste??

- Café com leite e lanches, mas o chapeiro só chega às sete. Dona, para encurtar, só tenho alguns cachos de uva.

- Me lava um?

- Lavo.

- Me seca a cacho?

- Seco.

- Põe num pratinho?

- Ponho.

Feliz, degustava eu da deliciosa fruta, quando compreendi o que se passava ali, logo às seis da manhã. Os papéis estavam invertidos. A compradora era vendedora e a vendedora era compradora. Sempre chupando uvas e jogando as cascas no lixo, admirei a forma profissional de como a moça ao meu lado exibia pequenas e lindas bijouterias, estendidas sobre um veludo vermelho. Hoje é comum isso, mas, antigamente não era! Rolos e mais rolos com pecinhas lindas, douradas... convidativas à vaidade feminina!

Sempre chupando uvas (já estava no terceiro cacho), acabei gostando muito de um brinquinho de argola. Aí, a vendedora olhou-me bem...de sobra e sentenciou:não, não! para a senhora é preciso argola bem maior! E eu tenho aqui, na sacola onde guardo os outros rolos.

E abaixou-se... mas... só encontrou um montão de cascas de uva sobre suas bijuterias.

Tinha sido... a minha “lata de lixo”...!!

Como eu disse no início desse texto, o ser humano é mesmo incrível! Ele me surpreende e me apaixona. Assim, veio o moço Paulo Borges Fazan, verificar se, nos meus 1500 vasos havia criadouro da dengue. Lá pelo exame do milésimo vaso, conversa vai, conversa vem... e não é que o moço Paulo é um poeta?! Um talentoso jovem, autor de:

O Anjo de Cristal

São traços que traduzem flores

Dores que dizem poemas...

Alegrias que contam desgraças !

És tu meu piano, meu jarro e meu amor...

Vejo em ti a felicidade

Oh! Meu anjo de cristal!

Vejo no espelho nossa dor

Por que te quebraste?

Éramos tão lindos – com asas e olhos vivos...

Agora somos apenas o reflexo...

Da tristeza estilhaçada em nossos peitos...

Tenho palavras muito doces

e... às vezes tão frias

Tenho palavras tão quentes

e... às vezes tão sombrias...

Palavras que me fazem voar

E sentir meu corpo atravessar as nuvens

Não posso ver

Nem posso voltar...

Gostaria de estar morto... e enterrado no céu!...

Daidy Peterlevitz
Enviado por Daidy Peterlevitz em 07/07/2010
Código do texto: T2363373
Classificação de conteúdo: seguro