COPA MISÉRIA OU PORCA MISÉRIA?
Por Carlos Sena
Derrota no final da copa do ano 2010. Para o Brasil é como se fosse uma morte em vida. A TV já desfila imagens de choro, desespero e muita dor estampada nas faces de tantos torcedores. Em cada pólo de torcida, regados a bebidas, shows musicais, etc., olhares amarelos eram trocados como que não acreditando na realidade da bola. A bola, agora chamada de Jabulani, não nos deu bola nas quartas, nem nas sextas-feiras. Porque hoje é sexta, exorto Drumnond porque hoje não é sábado e amanhã o será para novos sonhos. O que dá pra rir dá pra chorar e, certamente, a festa às avessas acontecerá. Afinal, fazer o que com tanta bebida, comida e tanta música?
Futebol enquanto esporte é congraçamento; enquanto paixão tira um pouco da razão como toda boa paixão.. Rima pobre para este dia nublado, com a permissão do Dia Branco de Geraldo Azevedo, mas sem degredo do amor e do perdão.
No Nordeste, uma COPA solidária continua. Cidades inteiras foram levadas pelas águas que não são de março aqui nestas paragens. Águas de junho, rotina do tempo em nossas terras, mas que este ano se aborreceu e deu o troco. Talvez o troco às especulações imobiliárias; talvez o troco àqueles que nunca quiseram cuidar dos rios como eles merecem; um troco às populações que ainda jogam lixo nas ruas e obstruem os leitos magros de alguns rios minguados que mais parecem mortos. Morte de rio não é como morte de gente. Rio “envivece”, diferente de nós. Na fúria das águas, inocentes e pecadores e pescadores foi um só. Diferente mesmo só a desolação: muitas cidades ficaram ilhadas, mas todas na solidão, como que a dizer no verso triste que a esperança existe, porque a vida não faz gol de placa como os nossos craques também não fizeram na África do Sul.
Uma copa foi perdida. Outra copa foi parida pelo esquecimento dos políticos que só se lembram de quem mora na beira dos rios, quando um dos dois dá sinal de alerta. Alerta de quem não tem onde morar e vai parar no mangue, nas encostas, na beira dos regatos, é o castigo de nascer, como se fosse um pecado venial. Qualquer coisa tipo: quem mandou nascer pobre e num país sem lei e repleto de políticos corruptos por todos os lados?
A copa do mundo foi perdida. A nossa COPA MISÉRIA foi parida talvez pela falta de uma melhor SELEÇÃO de políticos e cidadãos do bem em função das reais necessidades do povo.
Dunga, Kaká, Luiz Fabiano, Robinho, etc., logo esquecerão a derrota. As contas bancárias deles certamente estão recheadas de dólares, euros e reais. Josés, Severinos, Manoéis, Marias, etc., logo não esquecerão a derrota contra a "natureza" entre aspas. Se ainda tinham beira, agora nem eira nem ela têm, quanto mais reais, patacas, merrecas...
A copa paralela, contragosto realizada aqui no Nordeste, permanece. Lembranças do passado, fotografias da vida, dos amores, dos momentos bons da vida, foram-se na enxurrada rumo ao mar. Reconstrução das casas o governo logo o fará. Mas quem reconstruirá os lares? Os afetos dos entes queridos que se foram?
A seleção brasileira volta pra casa. A nossa, volta pra onde. O que há em comum é a derrota: uma no esporte, outra na vida. A do esporte faz parte do jogo, pois o espírito esportivo já vaticina que o importante é competir. Mas a vida? A copa da vida perdida de supetão? - Deu n'água!
Daqui a quatro anos, a seleção de futebol tentará o Hexa. Poucos se lembrarão do episódio contra a Holanda, exceto os especialistas em futebol e alguns torcedores mais sistemáticos. Aqueles que perderam casas, parentes, amigos, tudo, daqui a quatro anos, sabe Deus quem se lembrará deles! Mas sertanejo é forte e não vai fugir da vida - essa obstinada aventura que nos tem feito cair e levantar, talvez agarrados na mão de Deus...
Águas que correm para o mar,
Oh mar, em que mares guardas
Os rios desta solidão em desagravo?
Rios Capibaribe, Una e Mundaú,
Por onde anda meu amor
Que me deixou ao relento
Fugindo pra perto de tu
Devolve sonhos que de mim roubaste
Dá-me noite em meu dia...
Mas se de dia não me deres noite,
Concede-me a morte sem açoite
No calor da noite fria...
Carlos Sena - csena51@hotmail.com