PERNAMBUCO, ALAGOAS E AS ENCHENTES.

 

 

Diante de tanta tristeza com as enchentes que quase acabam com algumas cidades de Pernambuco e Alagoas, ficamos mais uma vez "encafifados" com a contradição da nossa modernidade. As cidades foram quase que levadas pelas águas, mas os governos não foram competentes na divulgação da catástrofe. O mínimo necessário que a tecnologia nos proporciona hoje com segurança, não foi posto à população: INFORMAÇÃO! Justo comunicação foi o que mais faltou nesse momento crucial -elemento importante para que a população, em tempo, evacuasse as margens dos rios. Resultado: cidades de médio e pequenos portes foram, literalmente, arrasadas pelas águas. 

 

Entra em cena, mais uma contradição moderna: não dispomos de instrumentos eficientes e rápidos na remoção de pessoas debaixo dos escombros, ou sobre telhado das casas a espera de socorro. O socorro precário às vítimas acontece, mas não há lugares específicos para colocá-las, emergencialmente. Tampouco, estrutura médica e de vigilância a saúde prontos para esses casos que, no momento, foram em Pernambuco e Alagoas, mas já aconteceram em outros estados e, certamente, acontecerão em mais outros.


Vejo tudo isto na lógica das contradições próprias do nosso tempo dito moderno. Chegamos a lua, estamos chegando a Marte, mas não chegamos ao próximo mais próximo. Desenvolvemos, como nunca, a nanotecnologia, mas não dispomos de, por exemplo, escavadeiras possantes que possam, rapidamente, retirar dos escombros, pessoas soterradas. Ou, como no caso das enchentes, proverem um socorro adequado e rápido. 
Claro que não faço apologia a inversão da tecnologia. Apenas chamo atenção para a prioridade dos governos que gastam milhões com armas, bombas atômicas, viagens interplanetárias, mas se "engasgam" diante de um salvamento ou de uma previsão sistemática de uma catástrofe altamente previsível como enchentes.


Por outro lado, há a responsabilidade dos próprios sitiados - daqueles vitimados pelas enchentes, desabamentos, etc. A relação com a natureza não pode ser colocada em terceiro plano quando se vai construir um imóvel. Afinal, o rio pode parecer que está morto, mas ele, diferente de nós, "envivece" e vai buscar seu lugar. A especulação imobiliária aterra mangues, desvia rios, inventa tecnologia para tudo que possa lhe servir no ato de "especular"... Quando o rio ou o mar quer tomar seu lugar, não respeita lei, contrato, decreto, nada. Ele "invade e fim"...


Diante do estrago feito, os governos já deram o ar da graça. Reconstruir será imperioso, pois quem não morreu tem que seguir vivendo. Mas agora é que é a hora de ver a "onça beber água". É neste momento que os governos têm que ser fortes para não permitir reconstrução em cima de leito de rio. Eles, os governos, têm que deixar de ser improvisadores e começar a reconstruir diante de um PLANO DIRETOR. Neste, respeitando-se não só os rios, mas todo o ecossistema, inclusive multando as pessoas que jogarem lixo nas caneletas.
Não podemos deixar de reconhecer que as pessoas, a despeito de seus sofrimentos, têm sua parcela de culpa. Culpa essa que os remete aos precários sistemas de educação que não primam por uma educação cidadã, libertadora, responsável, inclusive pelo ecossistema. Educação que prepare não só o cidadão para ter um emprego digno, mas lhe permita viver e compreender o seu mundo particular e tudo que lhe cerca, acima de tudo a natureza.


Diante da desgraça mostrada em 3D e em sistema digital de TV, resta-nos aplaudir a coragem dos nordestinos atingidos e daqueles outros que, imediatamente se mobilizam para ajudar. O Brasil não foge a luta e isto é maravilhoso, mesmo sabendo que o Sul maravilha desdenha do nordeste, a despeito de sermos fortes e não precisarmos angariar simpatia de ninguém...
Contra fatos não existem argumentos. O mundo está sofrendo com as loucuras do tempo: está chovendo onde era pra ser sol e o contrário. As estações não se respeitam mais no rigor de antes. Lições claras de que estamos pagando caro uma conta que se acumula há séculos.


Certamente, daqui alguns anos, toda esta miséria que quase acabou cidades pernambucanas e alagoanas, será uma lembrança. Casas serão reconstruídas, comércio, rede de esgotos, enfim, tudo. Menos as dores da alma. As da separação dos que morreram afogados ou soterrados. Também não passarão as lembranças daquilo que foi construído com a cumplicidade do tempo: as fotos dos filhos, dos pais, enfim, da família. As relíquias afetivas, os cantinhos das casas, os locais em que foram dados os primeiros beijos de amor, os bancos da praça, a igreja que oficializou o "sim" de grandes amores, o caminho de terra batida que levava aos familiares; o bucolismo das cidades, outrora construídas com o sonho dos habitantes, que agora será construído sob projetos feitos nos escritórios de engenheiros e arquitetos. Tudo isto e o que cada qual guarda de  pessoal e que não nos é dado conhecer, não passará nunca.
Para que Deus continue sendo brasileiro; para que a modernidade o seja nos momentos de dificuldades, utilizando a tecnologia para o bem efetivo, é que ajoelho diante de mim em súplicas... Acima de tudo para que os governantes administrem com responsabilidade social e não permitam que, em troca de votos, as invasões urbanas aconteçam sem nehuma fiscalização... Só assim, talvez, a gente não vislumbre reincindivas com as que já aconteceram.